Direção: Francis Lawrence

 Elenco: Jennifer Lawrence,Josh Hutcherson,Liam Hemsworth,Woody Harrelson,Donald Sutherland,Philip Seymour Hoffman,Elizabeth Banks e Julianne Moore

  Neste penúltimo capítulo da saga da heroína Katniss Everdeen (Lawrence), a maturidade da história – principalmente devido a presença de Jennifer Lawrence – atingiu seu ponto mais alto, focando durante boa parte nos conceitos de mídia e jogos políticos que tornaram um diferencial para a série em relação a outros filmes do gênero,sem apelar para sentimentalismo ou motivações românticas baratas – tanto que os únicos momentos de romance são rápidos e singelos.

  Iniciado logo após os incidentes do filme anterior,Katniss é usada como peça do jogo político da presidenta Alma Coin (Moore) e de Plutarch – Hoffman em seu ultimo papel – liderando os distritos que sobraram contra o domínio ditatorial do presidente Snow (Sutherland), onde a imagem de Katniss como símbolo – forjada através da mídia televisiva –  é fundamental para o levante dos rebeldes (ou criminosos segundo a elite) contra a capital. Em contra partida Peeta (Hutcherson) é explorado pelo presidente para servir aos seus propósitos.

  Neste perigoso jogo de uso de mentiras e noticias falsas com o intuito de enganar o povo (que neste caso não possui recursos para ratificar a veracidade das acusações) Katniss retorna a um dos distritos e confirma a destruição e morte causada pela opressão da ditadura de Snow (“É isso que eles fazem” diz Katniss). E numa época que ignóbeis objetos de manobras vão às ruas gritar contra a “ditadura”, mas pedem intervenção militar, é mais que válido a discussão.

  O roteiro de Peter Craig, Danny Strong e da própria autora Suzanne Collins consegue ressaltar bem a luta contra a opressão e manipulação da elite. Um destes melhores momentos é quando, ao som da bela “The Hanging Tree” que diz: “... Vem ver a arvore onde enforcou um que DIZEM matados três”, os rebeldes se dirigem ao um ataque suicida à represa que fornece energia a capital – O roteiro também usa como motivação, a classe operária, usada apenas para diversão dos mais ricos, sendo obrigados a trabalhar ainda mais para atender aos caprichos da capital (mais atual impossível).

  Esta elite reacionária pode ser personificada na figura da Effie Trinket (Banks), que mesmo com seu tom sempre caricatural tornou-se uma das mais interessantes e carismáticas figuras. Se antes ela era uma peça importante para a promoção dos jogos, agora se torna uma refugiada e com visual que contrasta com sua antiga imagem e reflete sua nova condição social: roupas escuras, maquiagem sóbria e adereços discretos – mas mesmo assim ainda deseja privilégios.

  A boa direção de Francis Lawrence torna-se mais evidente no terceiro ato quando ele faz questão de em nenhum momento mostrar o que realmente ocorre do lado de fora do complexo dos rebeldes quando atacados – sinal claro que ele privilegiou os personagens e seus dramas pessoais num momento de pressão. Outro interessante aspecto é o uso constante da fotografia cinzenta ,assim como o figurino discreto que neste filme passa longe dos vestidos flamejantes dos anteriores, simbolizando assim a atual situação dos protagonistas.

  Mais um aspecto do diretor foi na construção do clímax ,quando os rebeldes decidem adentrar nos domínios da capital, numa seqüência bem realizada sem a necessidade de engrandecer com perseguições ou tiroteios.E o resultado desta incursão abre espaço para revelar o estado pisicológico de um importante personagem, cujas respostas serão vistas no quarto e último filme.

  Baseados em personagens desenvolvidos na medida certa e em decisões corretas da direção de Francis Lawrence,“Jogos vorazes – A esperança parte 1” torna-se o melhor filme da saga até o momento, preparando cenário para a conclusão e abrindo espaço ainda maior para discutir os mecanismos de manobra tão em voga em tempos atuais,tornando-se uma grata bem realizada surpresa acima da média.

  Torço que todas suas qualidades não se tornem justamente um problema para o público que esperava outra abordagem – no caso mais romance e ação.Isso acontecendo,aqueles com quem os protagonistas lutam contra no filme, na vida real terão alcançado seus objetivos.

Cotação 4/5