Drácula - A história nunca contada (Dracula – Untold)

Direção: Gary Shore

Elenco: Luke Evans, Sarah Gordon, Dominic Cooper, Art Parkison, Diarmaid Murtagh e Charle Dance

 

 Um filme que se propõe a ser a “história nunca contada”, de duas uma: ou realmente a historia nunca foi contada – o que seria difícil – ou os realizadores acreditaram que os espectadores não teriam a capacidade de lembrar-se de tudo o que foi dito sobre o príncipe das trevas até hoje. Acredito infelizmente mais na segunda opção, uma vez que pegando um fiapo de historia para tentar desenvolver a origem do personagem com ineditismo, acaba por fim “cedendo à essência” da criação de Bram Stoker, tornando inútil qualquer tipo de abordagem.

  Mas este não é o apenas o único problema do filme dirigido pelo estreante Gary Shore, devido a falta de experiência seguiu a cartilha (isso não foi elogio) dos filmes atuais e apresentou um produto pobre como tantas outras produções do gênero: Personagens mal desenvolvidos, diálogos frágeis, situações forçadas e sem fluidez e uma fotografia escura – eu particularmente não suporto mais ver em filmes assim.

  De início através de uma narração infantil e com uma visual ao estilo “300”, conhecemos o príncipe Vlad – Luke Evans tentando dar alguma credibilidade ao personagem – oferecido ainda criança para outro reino e retornando a Transilvânia, já adulto, torna-se o monarca querido e esperado de todos, mas é obrigado a fazer um acordo – pra lá de lúdico – com uma criatura demoníaca (Dance) e assim, conseguir poderes para ganhar (sozinho) a guerra contra o sultão (Cooper) que deseja escravizar os jovens da cidade Romena (inclusive seu filho).

  Interessante também que Vlad fez fama como guerreiro impiedoso empalando seus inimigos, mas segundo o mesmo, era “apenas” para assustar e não cometer tais atos novamente – isso tudo com apenas 5 minutos de projeção. Outra prova que o desenvolvimento não é um dos pontos fortes do roteiro é o fato de todos os personagens secundários, além de descartáveis, depende exclusivamente de Vlad até para saberem onde estão literalmente pisando.

  Outro ponto falho é o núcleo familiar de Vlad composto pela esposa (Gordon) que serve somente para mostrar o corpo (dele) e soltar frases tipo: “Ele foi tirar forças de onde precisava”. E seu filho (Parkison) que passa o filme todo mencionando “Papa” de maneira irritante, assim como a figura de Dumitru (Murtagh) com seu humor completamente desnecessário. A única figura que talvez mereça algum destaque é o vampiro chefe vivido pelo sempre ótimo Charles Dance, mas com uma maquiagem pesada e pouco tempo em tela não pode desenvolver tanta coisa, todavia em apenas uma cena, é capaz de ser mais expressivo que o restante do elenco.

  O roteiro de Matt Sazama e Burk Sharpless ainda tenta desmitificar (inutilmente) Vlad da figura demoníaca que sempre povoou o instinto coletivo com expressões: “Drácula quer dizer filho do dragão”, e por motivos óbvios mudar no final para “Filho do Demônio”, aumentando a incongruência e obviedade.

  Outros exemplos de situações neste padrão emitidos pelo roteiro são: após Vlad adquirir seus poderes sobre humanos, ele parte imediatamente para acabar com a batalha que “concidentemente” ocorre... a noite. Ou o fato do protagonista ridicularizar o fator religioso para pouco depois contemplar os símbolos de uma igreja.

  Como a aproximação do fim e paralelamente o encerramento do prazo do contrato de sangue, “Drácula” continua seguidamente com sequencias que como espectador me causava até risos. Como não prever o que o herói escondia atrás de uma porta, sendo que o mesmo era capaz de controlar– para atacar seus inimigos– uma revoada de morcegos como certo personagem de HQ com certo “grau de parentesco” fez em um dos seus filmes (claro em proporções menores).

  No clímax entre Drácula e o Sultão, este último prepara uma armadilha típica de desenhos e sendo ele conhecedor dos poderes de Vlad, perguntamos ironicamente se não poderia ter mudado os horários das batalhas para ter a luz solar a favor, mas enfim. E quando pensávamos que o fim da luta de Vlad tivesse chegado ao fim, o mesmo ainda tenta proteger seu filho – fora conviver com a perda da esposa– contra as consequências de seus atos anteriores envolvendo seus amigos de batalha que diferentemente dele, mudaram de personalidade quando transformados.

  Mas como a direção não esta muito preocupada em coerência mesmo, surge um personagem que resolve a questão e Vlad reaparece assumindo a versão que conhecemos de Drácula mostrado no filme de Coppola em que o amor é a motivação maior para seus atos. Um filme fraco que não agrega nada na mitologia correndo o risco de fazer com que o público realmente acredite que foi apresentado a algo convincente e inédito.

Cotação 2/5