De volta ao Jogo (John Wick)

Direção: Chad Stahelski

Elenco: Keanu Reeves, Michael Nyqvist, Alfie Allen, Willem Defoe, Adrianne Palicki e Ian McShane.

 

Dirigido pelo dublê e coordenador de cenas de ação Chad Stahelski, “De Volta ao Jogo” (tradução horrenda) – apesar de alguns clichês e personagens típicos do gênero – acaba se tornando um bom filme, na qual a vingança é a motivação para sequências bem orquestradas e narrativas corretas, apesar de nada sutil. Caso levasse um pouco mais a sério ao evitar determinadas situações, poderia ter engrandecido muito mais a experiência. 

John Wick (Reeves) é um ex-mafioso (não é spoiler) que chora pela perda da esposa e busca forças para seguir em frente neste momento difícil através das lembranças da amada. A narrativa atenua os sentimentos do protagonista através da fotografia ao alternar entre a fria e azulada para exemplificar a dor ou senão entre a cor vermelha para exemplificar o antigo relacionamento. E quando achei o uso destas cores sem muita lógica em determinada cena, para minha surpresa, o roteiro justifica-as através do presente dado pela esposa após a morte dela. 

Mesmo com o uso de recursos óbvios para criar uma apatia com o público, a direção foi bem sucedida, o que era extremamente importante. Sendo assim, imediatamente nos identificamos com o protagonista e somos preparados para os atos seguintes. 

Quando John vê o pouco do mundo que resta sendo tirado de suas mãos pelo grupo liderado por Iosef (Allen) – um frouxo filho de um importante mafioso local –, o sentimento de vingança é mais verossímil, mesmo com o clichê de câmera na face do protagonista olhando de baixo para cima. 

A direção aumenta o interesse pelo longa, principalmente pelo fato de vislumbramos sobre o passado e características de John apenas pela reação dos outros personagens ao ouvir o seu nome. O clima é atenuado por uma boa sequência de ação em que o diretor Johna a decisão correta de não tornar algo tão absurdo com o protagonista -- apesar da sua astúcia – tem certa dificuldade em abater um inimigo mais preparado. 

Em determinados momentos, como dito inicialmente, o filme apresenta certas abordagens desnecessárias, tal como o fato de abusar de um humor caricato, na qual enfraquece o impacto. Podemos citar como exemplo o fato – logo após a primeira sequência de ação – o surgimento do policial apenas para ratificar o que já sabemos. Outro ponto a ser comentado é a sequencia do hotel: a fotografia multicolorida e a ausência de uma mise-en-scène mais bem trabalhada durante a ação tornou a cena um pouco confusa, mas nada de muito grave. 

Por outro lado, a direção insere outros elementos que soam cômico e realmente funcionam pela sutileza e contexto. Como, por exemplo, a equipe de limpeza que está sempre atenta para não deixar rastros de seus clientes. E claro o próprio Hotel Continental, possuidor de um código de conduta rígido e que serve como hospedagem para John, quando ele está na cidade a negócios, principalmente por oferecer serviço 24 horas em várias modalidades para os seus "clientes especiais". 

O elenco se destaca com a participação do onipresente Willem Defoe como colega de profissão de John e Michael Nyqvist (interpretando o vilão Viggo). Este segundo deveria ser um vilão a altura do protagonista, mas é visível (principalmente pelo clímax) que ele está se divertindo. E também temos a sempre boa presença de Ian McShane – com o seu ar de mentor – interpretando Winston, um antigo amigo de John. Finalmente chegamos ao cinquentão Keanu Reeves – mesmo com a sua conhecida falta de expressividade – já de convir que este tipo de papel lhe cai bem, independente da sua idade. 

Em seu ato final, “De Volta ao Jogo” força algumas situações, principalmente a que fecha a rima estabelecida na cena inicial. E o fato de contar com Keanu Reeves como astro, o direção emula de certa maneira a sequência final de Matrix Revolutions, mas acredito que sem um risco de comprometer a inserção do público durante a cena de embate do vilão, tornado o filme em seu contexto eficiente.

Cotação 3/5