Homens, Mulheres e Filhos

Direção: Jason Reitman

Elenco: Kaitlyn Dever, Ansel Elgort, Jennifer Garner, Adam Sandler, Dean Norris, Olivia Crocicchia, Elena Kampouris e Emma Thompson.

 

A insignificância de nossas vidas é medida perante o infinito do espaço, sendo nosso planeta apenas um minúsculo grão de areia dentro outros bilhões e as respostas para nossa existência estão sendo procuradas. A sonda espacial Voyager  foi lançada em 1977, contendo todas as informações possíveis sobre nosso planeta, para um dia possamos ter alguém para nos ouvir e saber quem somos – caso seja o interesse da espécie que a encontrar.

 Todavia sofremos nos dias atuais – apesar de todas possíveis às informações e meios disponíveis – uma carência como pessoas e mau uso das informações através da internet, onde nos transformamos em indivíduos ainda menores.

 Um misto de vaidade e egocentrismos, demostrando que como seres humanos ainda temos muito a evoluir. Ou será que estamos sofrendo uma "evolução contrária"? Principalmente quando conseguimos pousar um satélite em asteroides ao mesmo tempo em que estupro contra mulheres é algo aceitável, dito por anacrônicos ditadores defendendo os bons costumes familiares pregados pela religião.

  Neste novo filme do diretor Jason Reitman, a crítica contra este comportamento e as mudanças da comunicação entre as pessoas pós 11/9 é mais contundente, mas ao contrário do espetacular “Her” de Spike Jonze,“Homens, Mulheres e Filhos” os dramas dão distribuídos entre núcleos familiares. Admito por mais pretensioso que seja abordar um assunto tão complexo que envolva até mesmo a existência humana – e correr o risco de tornar-se falho – o recado esteja dado.

 Com os problemas pessoais apresentados, podemos concluir -- até de maneira óbvia -- que o maior perigo é o mau uso das informações e preconceitos que propriamente a internet. Como adolescente que todos somos ou fomos, difícil concordar com as atitudes repressoras a nível religioso da personagem de Jennifer Garner diante da filha Brandy (Dever),a ponto de rastrear todas as ligações e conversa da jovem – cujo efeito colateral  é mais grave que propriamente o motivo do controle.

  Ou aceitar que Hanna (Crocicchia) se transforme em um adolescente cada vez mais fútil, atrás da fama repentina e usa o sexo como propaganda, apoiada pela mãe fotografa – sendo esta o reflexo dela na juventude. Também emblemáticas e questionáveis atitudes envolvendo anorexia com a personagem Alisson (Kampouris), influenciada pelas redes sobre “corpo perfeito”.

 A crise existencial dos personagens é clara, independente de adultos ou não. O exemplo maior é Tim Mooney (Elgort): um adolescente introspectivo, desmotivado e apesar de grandes aptidões para prática esportiva, perece as noites jogando vídeo game por horas com desconhecidos.

 Seu isolamento é tristemente ratificando pelo abandono materno de maneira mais dolorosa que a internet hoje pode fazer e que cai como luva para o contexto do filme: bloqueio através de redes sociais. E ainda tendo de lidar com a dor de seu pai – o ótimo Dean Norris – para seguir em frente.

 O roteiro do próprio diretor em conjunto com Erin Cressida cria uma dinâmica entres os personagens de maneira satisfatória, mas tantas histórias paralelas tornam determinadas situações um pouco desnecessárias e cansativas – como, por exemplo, o jovem apaixonado pela popular Hanna que não agrega muita coisa além de confirmar a persona da jovem.

O casal formado por Brandy e Tim é um dos pontos altos do filme. Por vezes incompreendidos e sofrendo pela insegurança dos seus mundos a aproximação deles é gradual e bem realizada. E o fato de constantemente se encontrarem confinados entre livros – algo a muito abandonado por muitos adolescentes – engrandece o contraste com o mundo atual.

 A direção usa de um artificio comum hoje em dia para modernizar a narrativa: o uso de pops-up de mensagens na tela para enfatizar como somos dominados pela esta forma de comunicação. O que infelizmente na maioria das vezes evita os contatos visuais entre as pessoas – e quando acontece são apenas superficiais e para disfarçarem os xingamentos enviados pelos whatapps da vida.

 Como a pretensão do longa é abordar a influência da comunicação via internet em vário níveis e escalas, o mundo adulto é bem representado com o relacionamento entre o casal vivido por Adam Sandler  e por Rosemarie DeWitt ( em atuações contidas mas elogiáveis).

 Não temos neste mundo moderno deixarmos de identificar c om o drama do casal que sofre a frigidez do casamente desgastado e a procura por novos parceiros de cama através de site de relacionamentos para satisfazerem suas carências pessoais.

  A montagem proporciona um momento interessante quando entre encontros exta conjugais as cenas se alternam,onde o dialogo do casal como seus respectivos amantes se entrecortam, tornando aquilo a confirmação de apesar da distancia eles ainda mantem uma certa afinidade. Mesmo cientes de tal situação o desenvolvimento dos personagens deixa claro que quase em um caminho sem volta – principalmente a esposa.

 Conhecido por filmes alternam o humor negro e drama muito bem sincronizados (“Up in the air“,“Juno” e “Jovens Adultos”),Jason Reitman apresenta um quadro real da nossa sociedade atual via tecnologia onde precisamos repensar e atualizar nossos conceitos diante da nossa família e amigos. Mesmo não sendo um assunto novo é sempre válido e necessário um filme levantar tais discussões.

Cotação 4/5