Ida (Ida)

Direção: Pawel Pawlikowski

Elenco: Agata Trzebuchowska, Agata Kulesza, Halina Skoczynska, Adam Szyszkowski e Artur Majewski.

Pressionada pelo ambiente que vive, Ida (Trzebuchowska) é uma jovem freira órfã prestes a fazer seus votos de pobreza, humildade e castidade em um convento polonês, mas ao visitar seu único parente ainda vivo, Ida enfrentará um mundo novo e as descobertas que ele proporcionará.       

O diretor Pawel Pawlikowski transforma “Ida” em um rodie movie dramático de grande sensibilidade e delicadeza, tanto na narrativa quanto na história; e engrandecido pela belíssima fotografia em preto e branco para exemplificar aquela atmosfera sem vida pós-guerra com personagens de olhares duros e tristes, como esperassem por algo que justificasse suas existências.

Para aumentar este cenário sufocante em que vive, o diretor abusa do silêncio quase sepulcral e de enquadramentos que deixam sua protagonista na maior parte do tempo nos cantos inferiores da tela, como fosse subjugada, acuada e oprimida do mundo – principalmente o religioso –, em que jamais se sente confortável fora dele.

O sacro e profano se misturam no surgimento de Wanda (Kulesza), sua única parente ainda vida, que recebe a sobrinha em sua casa. Se Ida é uma compenetrada jovem, Wanda apresenta-se justamente o oposto da sobrinha: uma mulher de meia idade vivendo com os traumas de seu passado que envolve a morte de colegas militantes comunistas, passando seus melancólicos dias entre o trabalho de juíza em casos sem importância, bebidas e encontros sexuais com homens que acabara de conhecer.

A frieza do tratamento entre as duas é simbolizada através das fotos dos pais de Ida, sendo que Wanda resume ironicamente este fato como um "encontro de família", assim como o olhar rígido da freira (ainda mais realçado pela atriz), ao descobrir a sua origem judaica e confrontar com sua fé católica.

Estruturalmente simples “Ida” se mantem coeso e fiel a sua proposta até o fim. Com a sua bela fotografia e formosas cenas como, por exemplo, a protagonista rezando diante de um pequeno altar em uma encruzilhada do meio da estrada, criando a metáfora necessária para o conflito que surgirá. Ou quando ao visitar o antigo celeiro da casa dos pais, seu rosto é iluminado através do vitral, sendo esta uma obra de sua mãe, gerando um sarcástico comentário da tia.

E na medida em que o envolvimento entre as protagonistas aumenta, somos levados aos dramas da família na busca da descoberta do paradeiro dos restos mortais dos pais da jovem e, consequentemente, a “criação” do elo destruído pelo nazismo. E como todo rodie movie, Ida e Wanda tornam-se cúmplices de seus segredos, mas sem jamais saírem ou contrastarem como aquele mundo sem vida que se encontram.

As cenas ocorridas dentro do hotel, onde ocorre uma festa são emblemáticas, tanto do ponto de vista estético quanto da narrativa, principalmente ao demonstrar a delicadeza da direção de Pawlikowsk. Como o fato de Ida parar durante alguns segundos nas escadas que a levaria a um novo patamar ou quando vislumbra o jovem músico completamente inserido nas sombras para não ser notada por aquele mundo que acabara de conhecer (mundo este de jovens sem esperanças e tristes apesar de um momento de comemoração).

Também emblemática – e porque não mais importante do filme – é a cena na qual que pela primeira vez vislumbramos de maneira clara os cabelos a face completa de ida, quando o diretor deixa o espectador pensativo e aos poucos revela de maneira indireta seu significado, que mudará para sempre o destino dos personagens.

Engana-se ao pensar que após o fim das buscas pelo seu passado e das revelações de sua origem, Ida poderia finalmente obter sua redenção ou abandonar as suas convicções devido às mudanças externa e interna sofridas. Todavia, tais mudanças são ingredientes para aumentar a dúvida da personagem e, que para a surpresa do público, é desconstruída e construída de maneira delicada, baseada nas únicas referências que teve na vida e que deixaram profundas marcas, independente de qual caminho a jovem seguirá.

Tocante e belo, “Ida” ao tratar de maneira cuidadosa assuntos espinhosos, surgiu realmente com um dos fortes candidatos ao Oscar de filme estrangeiro em 2015.

Cotação 5/5