As Duas Faces de Janeiro ( The two faces of January)

Direção: Hossein Amini 

Elenco: Viggo Mortensen, Kirsten Dunst e Oscar Isaac.

 

“As duas faces de Janeiro” tenta chamar atenção em seu pôster dizendo ser do mesmo roteirista de “Drive”, dos mesmos produtores de “O espião que sabia demais” e de autoria do mesmo autor de “O talentoso Ripley”. Supérfluo, pois o filme possui qualidades próprias, sem a necessidade de vincular-se a outros longas -- algo por si só inconveniente.Caso fizesse qualquer associação, por mais errado que fosse, seria por lembrar os filmes de Hitchcock.

Baseado no romance de Patrícia Highsmith – assim como “Pacto Sinistro”, de 1951 que foi baseado na novela Strange In The Train –, “As Duas Faces de Janeiro” é um longa de suspense, com personagens de caráter duvidoso e que se envolvem em um triângulo amoroso, grandes quantias de dinheiro e consequências trágicas. Tudo isso tendo a Grécia e suas paisagens como cenários, bem ao estilo de filmes de espiões.

Nas ruínas da Acrópole, em Atenas, conhecemos o jovem guia turístico Rydal (Isaac) que, além do envolvimento com as jovens turistas, ainda carrega consigo o peso por não ter se despedido do pai em seu funeral.

A moralidade do personagem é posta em questão ao conhecer o casal americano Chester (Mortesen) e Collete MacFarland (Dunst), principalmente ao praticar pequenos delitos ao tentar ajudá-los em suas compras. A direção e o roteiro de Hossein Amini não acrescentam muitas informações do passado de Chester, o que aumenta o clima de suspense, deixando a dúvida de quem realmente está ou será enganado.

Rydal se aproxima do casal e, neste ponto, acredito que ficou um vácuo.Por mais que Rydal vê em Chester a figura do pai, isso não é muito convincente, por mais que o roteiro utilize tais argumentos de maneira inteligente ao final do filme. Torna-se evidente, portanto, o interesse pela figura de Collete.

Depois de um incidente envolvendo o trabalho de Chester como investidor, o trio é obrigado a desbravar pelo interior do país. Dá-se início, então, a uma perseguição típica dos filmes hitchcockianos, em que a cada lugar, um risco ou qualquer pessoa – até mesmo uma criança – possibilitar-se-ão que o disfarce seja descoberto.   

O foco neste momento é o desenvolvimento do trio e o contraste nas mudanças de seus comportamentos. Antes tínhamos um Chester seguro e inspirando confiança e agora ele é um homem falho e entregue aos ciúmes. Tal como Collete – antes uma esposa devota e feliz com o casamento – que se entrega ao desespero de ser o foco das atenções e se nega a acreditar nos problemas do marido. Ela deseja apenas retornar para casa, como se isso fosse o suficiente para resolver os seus problemas.

A fotografia predominantemente amarelada é um ponto de destaque, pois consegue emular de maneira sensível o clima quente da capital grega. Outro ponto positivo decorre do contraste desta fotografia, ou seja, do calor desértico para a chuva, numa sequencia dentro das ruínas de um templo e que mudará o destino dos personagens para sempre.

A partir de tal sequencia, o filme assume definitivamente o seu viés de suspense, na qual Rydal e Chester – apesar das diferenças – estão mais ligados do que nunca, pois a sobrevivência de um depende da ajuda do outro. Constata-se essa relação, por exemplo, na cena do desembarque do navio, em que os dois aparecem em planos distintos. Todavia, para escaparem, eles dependem da mentira e sentimentos que Rydal não nutre mais por Chester.

O diretor ratifica a sua boa direção, principalmente quando os personagens passam pelo aeroporto. Assim, por mais mirabolante que seja, era óbvio que Rydal saberia dos atos de Chester. Na sequencia final que se passa na noite em Istambul – contrastando com o início quente e cheio de vida –, Rydal se redime de seu fardo, por mais falho que possa ser o sentimento do personagem.

Cotação 3/5