O amor é um crime perfeito (L'amour est un crime parfait)

Direção: Arnaud Larrieu e Jean-Marie Larrieu

Elenco: Mathieu Amalric, Karin Viard, Maiwenn, Sara Forestier e Denis Podalydes

 

O homem sempre foi visto como alfa no relacionamento amoroso, um lobo marcado pela paisagem atrás das vítimas de seus desejos e instintos dentro do seu habitat natural, mas que ao mesmo tempo corre o risco de encontrar a sua ruína.

Em “O Amor é um Crime perfeito” a estrada é escura, selvagem e traiçoeira.Esta metáfora inicial do filme serve para conhecermos Marc (Amalric):um professor de literatura com fama de Don Juan e que não pensa duas vezes em se envolver com suas inocentes e sedentas alunas repetidas vezes, ao ponto de seus nomes misturarem entre si.sensual e sem vulgaridades, criando o clima e motivações do protagonista para seu atos .Os corpos e as personagens femininas são retratadas sempre de maneira privilegiada.

E ele não demonstra qualquer culpa ao levar as alunas para seu covil: cabana isolada pelas montanhas e neve, dividida com sua irmã Marianne (Viard).E o relacionamento entre eles é um caso à parte, pois os traumas de suas infâncias – aliados à tensão sexual e erotismo, numa espécie de complexo de Édipo – formam um interessante cenário, atenuado pelo ciúme de Marc ao interesse de seu chefe Richard (Podalydes) por Marianne.

Com o desaparecimento de uma aluna de Marc, o longa acrescenta a dose de mistério policial.Todavia,devido a um distúrbio (de certa maneira forçado) de Marc – além do fato do roteiro não tentar em momento algum esconder seus atos –,faz com que o foco seja o relacionamento entre os personagens, evidenciado pelo surgimento da madrasta da menina desaparecida,  Anne (Maiwenn) que se envolve rapidamente com Marc e inicialmente se mostra pouco abalada pelo desaparecimento da jovem.

A direção dos irmãos Larrieu assume de vez seu lado fetiche com o surgimento de Annie (Forestie):uma aluna com ar de ninfeta, tentando a todo custo conquistar Marc (detalhe para cena em que Marc exibe “A idade do Ouro” de Buñuel e paralelamente Annie o seduz com seus gestos), cujas tentativas são inicialmente negadas pelo professor com medo das consequências do relacionamento, mas que futuramente será de grande valia para o destino do protagonista.

Climaticamente dividido e tentando torna-se um thriller policial, “O Amor é um Crime perfeito” segue sem grandes saltos ou agilidade na narrativa, o que pode ocasionar certo desinteresse pelo caso.Como o mistério é solucionado pelo público bem antes do seu final, acredito não ser realmente o grande objetivo do filme. E fico ainda na dúvida se o resultado poderia ser outro, caso o casting fosse diferente, pois admito ter um problema em aceitar Mathieu Amalric inexpressivo e sem muita química com Maiwenn, prejudicando a identificação com seu Marc, mas enfim...

E no terceiro ato, vendo que já não mais controla o ambiente em que vive – principalmente com relação à sua irmã e vendo seu distúrbio trazendo graves consequências – ele decide assumir seu amor, esconder sua natureza e tentar retomar seu lugar na cadeia alimentar em vão. Neste ponto todo o sentimento que pensava existir não é mais confiável, restando apenas o fim de seus vícios e dor de quem aparentemente se importava com ele.

Cotação 3/5