Lucy

Direção: Luc Besson.

Elenco: Scarlett Johansson, Morgan Freeman, Min-Sik-Choi, Amr Waked e Pilou Abaek

 

Quando o personagem de Morgan Freeman diz em certo momento que os humanos querem mais ter do que ser, rapidamente associei com o objetivo do novo filme de Luc Besson. Apesar da premissa interessante (mas não nova) , o longa fica dividido entre o que realmente deseja ser e o que é. Dizer que o longa fica dividido seria uma maneira branda de dizer, pois se analisarmos pelos olhos da ciência, esta metade fica comprometida.

 Quando somos apresentados a protagonista Lucy (Johansson) sendo usada pelo namorado Richard (Abaek) para uma entrega, o diretor usa de maneira interessante entre as cenas, imagens de animais que representam presas fáceis para seus predadores, aqui visto na figura de Mr.Jang (Min-Sik-Choi/Oldboy) em meio a sangue e corpos, oferecendo a Lucy um serviço de mula de uma droga experimental.

A partir daqui o filme começa a contagem da capacidade percentual de Lucy mediante aos efeitos desta nova droga, depois da absorção pelo organismo dela da tal substância. A metáfora se traduz em imagens do homem primata até a criação da bomba atômica, sendo que o primata mencionado é a própria Lucy (nome dado ao fóssil de milhões de anos encontrado na década de 70).

 As questões levantadas (ou o lado científico) são vistos na figura do professor Norman (Freeman), um cientista que se dedica ao estudo da capacidade de uso maior do cérebro humano (segundo o filme) usamos apenas 10% - mito segundo a própria ciência. O aumento desta capacidade seria algo inimaginável, podendo o resultado ser telecinésia, controle de mentes e a ações metafísicas (sim Padawan, isso mesmo).

Estas explicações são pontos interessantes, mas rasas e soam como críticas a este evolução humana mais preocupada em dinheiro e poder do que transmitir os conhecimentos adquiridos durante as eras. Ou também pelo fato sem o desenvolvimento dos nossos neurônios, ficaríamos como “cães olhado para a lua”, segundo o próprio professor Norman.

Neste momento realmente agradeço o fato de não ser um estudioso da área, pois é visível que o roteiro tenta conferir um peso cientifico à narrativa de maneira bruta.  Além do mais, falha por destoar muito da proposta apresentada, mesmo sendo uma ficção científica. Para isso podemos usar como exemplo “Sem Limites”, de Bradley Cooper onde o uso dos poderes é algo mais racional e calcado na realidade.

  Este lado ficção em nenhum momento é usado com parcimônia e tudo é feito para impactar algumas boas cenas. Assim passamos de  momentos sensíveis (quando a protagonista nos sensibiliza através das lembranças o que já deixamos para trás durante nosso desenvolvimento) até por momentos que causam certo incômodo , como o fato de Lucy ser uma espécie de Jedi , é capaz de aprender uma nova língua em minutos, realizar alterações físicas em seu corpo, prever acontecimentos e até ter uma visão de longo alcance.

E como estamos falando de um filme de Luc Besson, não podemos esquecer como a ação não decepciona. O estilo elegante, câmeras lentas e uma dose de sex appeal (Scarlett Johansson entrado para a galeria de personagens femininos do diretor) ainda funcionam – principalmente na cena do corredor do hospital –, incluindo posteriormente uma burocrática corrida de carros pelas ruas francesas.

Mas no ato quando Lucy quase atinge sua capacidade total, Luc Besson parece soltar qualquer neurônio que estivesse preso, apresentando toda uma explicação em que protagonista assume sua posição divina, controlando o espaço tempo, passando por toda evolução da humanidade e a criação do planeta (me perdoe, mas soa como 2001). E como um “Deus Ex Machina” (literalmente) passa adiante seu conhecimento em prol da humanidade de maneira vergonhosa. 

“Lucy” não chegar ser um filme ruim, mas acredito que os realizadores usassem ironicamente menos a capacidade do cérebro, poderia ter tornado o tempo e sua análise algo mais lúdico dentro de uma embalagem apreciável, mas infelizmente isso não acontece.

Cotação 2/5