Doador de Memórias (The Giver)

Direção: Philip Noyce

Elenco: Jeff Brigdes, Meryl Streep, Brenton Thwaites, Odeya Rush, Katie Holmes, Cameron Monagham e Alexander Skarsgard. 

 

Baseado em mais um best seller adolescente e feito sob encomenda para ser transformado em longa metragem, Doador de Memórias torna-se um longa frágil em suas abordagens, conceitos e soluções em contraposição à concepção visual interessante através de mensagens e questionamentos sociais e ecológicos.

Após ruína do mundo atual, somos apresentando a uma utópica, asséptica e ditatorial sociedade, em que as limitações de sua população perpassam de um simples contato físico até a exigência precisa da linguagem em uma simples conversa, além do controle do clima e do uso de drones. Ao atingir a maioridade, os jovens têm todo o seu futuro profissional e pessoal decidido em audiências públicas pelos anciãos – representado através da figura da Chef Elder (Streep) –, servindo como rito de passagem para a vida adulta, ou como dizem “obrigado pela sua infância”.

E assim temos o conhecimento que o protagonista Jonas (Thwaites) foi escolhido para ser o novo discípulo do The Giver (Bridges, com a dicção mais do que arrastada), transferindo ao novo aluno as lembranças, histórias e todo o conhecimento da humanidade que ficou para trás, inclusive as guerras e ignorâncias cometidas pelo homem.

O roteiro de Michael Mitnick e Robert B. Weide, baseado no livro de Lois Lowry, subestima o seu público alvo, principalmente ao permitir um raciocínio ilógico, ou seja, se esta nova sociedade é tão ditatorial a ponto de controlar toda a população e o seu ambiente desde o nascimento até a morte, qual seria a necessidade de fornecer o conhecimento para uma mente jovem e rebelde? Inclusive ao correr o risco de ter o seu poder confrontado? Ainda mais sabendo que o escolhido anterior – ao conhecer toda dor e ignorância da humanidade – abdicou do posto.

Não podemos deixar de comentar a interessante decisão de tornar o símbolo da nostalgia e alegria de The Giver e, consequentemente de Jonas, em um trenó. Por acaso alguém pensou em Rosebud, de Citizen Kane?

  O roteiro ainda fornece algumas situações comuns e frases de efeitos: “o que somos não muda”, “um lar é mais do que isso” ou “o amor não se explica”, o que traduz a superficialidade do filme. Remete-se, ainda, a tentativa de usar a música como recurso dramático para o protagonista e os confrontos entre Bridges e Streep, principalmente pelo dilema acerca do livre arbítrio que a humanidade não soube utilizar de maneira correta no passado e que trará consequências ao futuro, incluindo todas as dores, preconceitos etc.

Ressaltamos a direção de Philip Noyce em mostrar a sociedade inicialmente em formato preto e branco, com pequenas inserções coloridas para exemplificar a beleza e multirracialidade de etnias e credos do passado, além do uso de imagens de atos covardes praticados contra animais e cenas dos horrores do Vietnã de maneira granulada. Bem como – até que o filme adquira a sua tonalidade total – a fotografia vai gradativamente colorindo e sendo usada para acompanhar o protagonista durante a sua adaptação ao seu poder. 

Até o final de Doador de Memórias continuam os dilemas e metáforas, inclusive algumas religiosas que foram usadas de maneira rasa e inverossímil como por exemplo a fuga de Jonas das autoridades,com um final é abrupto e forçado, mesmo carregado de lirismo. 

Cotação 2/5