Dublagens-Parte 1  

 

Eu sou completamente contra as dublagens nos cinemas e defendo que é algo INJUSTIFICÁVEL! Não adianta entrar em conflito ou discutir com aqueles que preferem esta mutilação artística, pois equivale à tentativa de ter uma conversa racional sobre religião com um fundamentalista.  

Nenhuma razão para justificar a dublagem será válida, ressaltando as animações porque têm uma razão de ser devido (crianças). É uma tristeza sem fim saber que o domínio das dublagens nos cinemas é algo que provavelmente não tem mais volta. Tudo graças à preguiça intelectual de milhões que frequentam os cinemas do país-- principalmente em shoppings--além da conivência das redes e distribuidoras de filmes que pouco se importam com aqueles que preferem assistir ao filme como no original, que sempre foi o padrão. 

Buscarei explanar em artigos o panorama do cenário, além de comentar e mostrar como a dublagem é tão prejudicial ao cinema. Hoje começarei tocando em um ponto, se não for o mais absurdo, é um dos mais ridículos: o fato das pessoas que veem filmes dublados argumentarem que as LEGENDAS ATRAPALHAM ao verem um filme!

Argumenta-se que a não inserção de legendas decorre da ausência de hábito de leitura das pessoas que frequentam os cinemas, o que atrapalharia o espectador. Contudo, ouvir o personagem dublado por uma estrela Global não atrapalharia? Ou ouvir um personagem dizendo: “Já é” ou “Me vê um podrão” não incomoda? Faça-me um favor!

Tempos atrás vi uma cena do filme “O Poderoso Chefão” no youtube e muito me espantou ao constatar que a dublagem transforma o Marlon Brando no personagem do Mumm-Rá, dos Thundercats (nada contra o desenho, inclusive cresci assistindo e sou fã). Porém, ao apreciar o espetacular trabalho de um dos maiores atores da história, somos remetidos à famosa frase “antigos espíritos do mal”.

O cinema é inserção e também descrença. Neste aspecto, qualquer coisa --principalmente a dublagem-- capaz de tirar o espectador do filme e jogar para a realidade é prejudicial .Pois também são características essenciais de qualquer filme a mixagem e a edição de som, que simplesmente são descartados pela dublagem. Bem como – e o mais importante –  o trabalho do ator, no qual o mesmo dedica meses de preparação, postura e dicção para desempenhar uma interpretação digna, mas destruido por uma dublagem, impossibilitando apresentar plenamente ao público o trabalho e inviabilizando a identificação espectador-ator. Isso é um desrespeito tanto para o próprio ator quanto para o cinema. É como pegassem a Monalisa de Da Vinci, tirassem uma Xerox colorida e a exibissem como fosse a original.

Ressalte-se, ainda, que há filmes que dependem ainda mais do trabalho vocal do ator. Cito como exemplo a atuação de Johnny Depp na franquia “Piratas do Caribe” e a sua voz bêbada, falha e cheia de nuances que complementam a sua postura, evidenciando o tom certo e cômico ao personagem Jack Sparrow.

Em “Cavaleiros das Trevas” há outro exemplo: Christian Bale demonstra toda a psicose de Bruce Wayne através da alteração vocal quando assume a personalidade do Batman. Bem como o próprio vilão Bane, de Tom Hardy, na qual a face está quase que totalmente escondida por uma máscara e a sua voz abafada é o único mecanismo de expressar a sua personalidade. Por fim, não podemos esquecer-nos de Michael Caine e o seu sotaque inconfundível ao dar importância, altivez e dramaticidade necessária para o seu Alfred.

Fiquei muito preocupado quando o filme espetacular “Her”, de Spike Jonze, estreou nos cinemas: seria capaz da distribuidora dublar a voz (e que voz!) de Scarlett Johansson? Ela fez um trabalho magnífico, impondo dinâmica, sensualidade e personalidade para a voz de um programa de computador ao se envolver com o seu cliente. Felizmente isso não aconteceu devido ao fato deste filme ter sido exibido em pouquíssimas salas e fugido um pouco dos shoppings

Por fim, imaginem todos estes trabalhos interpretados por outras pessoas e em escala industrial? Simplesmente os filmes perderiam todas as suas forças. Ademais, todos os atores que utilizaram a voz como base de interpretação – da mesma forma que nós a usamos para expressar os nossos sentimentos – têm o seu trabalho ignorado. Isso é um completo absurdo!

Aquele que argumentar que não existe diferença entre a obra original e o dublado deverá procurar um psiquiatra ou como disse também o crítico Pablo Villaça: “Seria como ir ao um churrasco e comer carne podre, só para dizer que foi”.