O Sal da Terra (Salt of the Earth)

Direção: Wim Wenders

Mesmo para a maioria das pessoas que não conhecem o trabalho do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado é emocionante acompanhar a trajetória deste homem que além de ser referencia na sua área, foi influenciado de maneira única pelo seu ofício. Influência que o transformou de maneira tão pessoal que ao mesmo tempo nos faz sentir todos os defeitos e qualidades da nossa natureza e a relação com o ambiente que nos cerca.

O diretor Wim Wenders acompanha a trajetória pessoal de Salgado através do trabalho do fotografo desde sua juventude em Minas Gerais, passando pelo seu exilio na França até a criação do magnifico Instituto Terra. Assim, contar em detalhes da saga de Sebastiao Salgado é algo extremamente único, e devido a sua grandiosidade, a direção consegue juntar os pedaços e montar este o panorama de maneira pessoal, mas com escala humanitária - completado com as filmagens do diretor, tornando tudo algo homogêneo e coeso.

Por motivos óbvios, as imagens de arquivo do trabalho de Salgado falam por si. E separar uma imagem seria algo impossível de ser feito tamanho importância e significado que cada uma delas tem. Mas caso fizéssemos não poderíamos deixar de comentar o trabalho realizado durante o corrido do ouro na Serra Pelada nos anos 80, onde o fotografo com toda sensibilidade que lhe peculiar associa tal magnitude do evento como uma transcrição do passado da humanidade - como a construção das pirâmides - acontecendo nas lentes de sua câmera.

Como um cidadão do mundo, vamos sendo apresentados à rotina de viagens e aventuras de Salgado aos mais distantes e abandonados lugares do planeta, e escancarando através de suas fotos as maiores maldade que um ser humano pode cometer ao semelhante: A fome, guerra e agressão ao seu próprio ambiente. Representado aqui nas imagens de famílias inteiras desnutridas morrendo como gado na Etiópia e a destruição de centenas de poços de petróleo durante a guerra do golfo.

Contundo tal proximidade com tantos acontecimentos cobrou um preço alto a Sebastião Salgado: a perda da esperança com a humanidade. Assim a identificação do público é aumentada ao vermos tanto dor, tanto incompreensão e injustiça que também somos atingidos por tais sentimentos. E vemos que aquele homem e pai de família, carrega nos ombros todo este peso, sem poder fazer "nada para mudar"(a não ser claro continuar a ser o profissional que usa a luz para capturar um momento de maneira como nenhuma outra pessoa fará , devido as experiências individuais de cada pessoa).

Como todo homem nesta situação a maior ajuda que ele poderia ter vem justamente de suas origens e das pessoas de quem se ama. A esposa Lélia Salgado sempre esteve ao lado dele durante todo o tempo, suportando a ausência do marido e com dois filhos para criar. Tornando-se o alicerce para Sebastião seguir em frente em sua jornada como um homem que serviu a um propósito humanitário.

Voltando aos sentimentos familiares mais profundos, Sebastião é alguém que esta ciente de sua importância , assim sua missão final é tão pessoal quanto relevante para a parte que faltava do ciclo que ele começou décadas anos atrás: O instituo Terra. Um projeto tão ambicioso quanto íntimo que consiste não somente reconstruir na fazenda da família parte da mata atlântica devastada pela seca, como ao mesmo tempo ressuscitar a memoria de seu Pai.

Fechando tal ciclo e reabrindo outro, o projeto que é a metáfora e exemplo perfeito para a reconstrução do homem com seu ambiente. A redenção de um herói discreto, que antes desacreditado, se tornou exemplo de respeito e perseverança com nosso semelhante. Uma herança que ficará para sempre marcada em nossa sociedade e cabendo a cada um nos preservá-la.

Cotação 4/5