Diário da Esperança (A nagy Füzet)

Direção: János Szasz

Elenco: Laszlo Gyémánt, András Gyémánt, Piroska Molnár, Ulrich Matheus, Ulrich Thomsen, Diana Kiss e Gyongyver Bognar.

Qual o resultado da influência em duas crianças que abruptamente vêem seu mundo mudado de um cenário - que apesar de certa rigidez ainda se mantinha afetuoso -, para um mundo cercado de dor e lembranças que somente servem para causarem mais sofrimento e deixarem feridas que nunca serão curadas? Ao mesmo tempo, servindo como um amadurecimento cruel onde as mudanças são como um autoflagelamento religioso para suportarem a violência que os cerca cometidas por outras tantas pessoas marcadas pela perda e tristeza.

O diretor Húngaro János Szasz apresenta tal conclusão deste estudo de personagens de maneira contundente. Um exercício psicológico de duas crianças (Laszlo Gyémánt e András Gyémánt) que tentam de tudo se manterem fiéis ao seu mundo, mas que aos pouco vão cedendo aos instintos de defesa que os transformarão para sempre ao serem enviados aos cuidados avó (uma reclusa e desprezível figura que não demonstra nenhum sinal de humanidade e carinho pelos netos nunca antes vistos).

O roteiro escrito inspirado no romance de Ágota Kristof é eficaz ao mostrar os envolvidos neste drama familiar. Assim em pouco tempo ficamos cientes de tanto rancor e animosidade envolvendo a avó e mãe (Bognar) dos garotos, devido à ausência desta última durante 20 anos. Tais sentimentos são o ponto de partida para a construção (ou reconstrução) da personalidade dos garotos diante de tais fatos e que servirão para uma série de rimas e simbolismo durante a projeção.

A união dos garotos é ratificada logo na primeira cena, com a câmera do diretor fazendo questão - assim como boa parte do filme - que os dois sejam sempre enquadrados juntos e por muitas vezes nos encarando como esperassem um julgamento do espectador pelos seus atos futuros. Para salientar tal mudança de comportamento, a direção usa na narrativa um tom de fábula ao incluir animação através dos desenhos dos meninos no caderno dado pelo pai para que anotassem tudo que eles presenciassem - cujo desenhos vão escalonando a violência que presenciam.

A direção é acertadamente econômica em não tornar um grande drama de guerra especificamente. A guerra esta presente claro, mas o conflito é apenas usado como pano de fundo para empurrar a ação dos personagens. Um exemplo desta abordagem é na seqüência do ataque área nazista em que apenas vemos as sombras dos aviões e o barulho das bombas; assim como a cena da prisão de judeus sendo levados para os campos de concentração - mas ratificando que o foco é a ação interna daquelas pessoas e claro dos garotos que presenciam mais um momento de dor.

Neste ponto somos apresentados a outra grande seqüência que poderíamos interpretar como sendo um rito de passagem, mas no fundo trata-se de mais um ato de abuso protagonizado por uma simpatizante nazista (Kiss) que apenas tem interesses pessoais nos dois jovens - cujo desfecho é o ato inicial da mudança dos gêmeos.

A fotografia de certa maneira com cores vivas cria um contraste interessante, pois o longa em si raramente segue tal tendência, deixando para a história e seus dramas a responsabilidade total de passar os sentimentos de perda e tristeza, mesmo aproveitando bem todo o ambiente de belas paisagens que cercam a fazenda - ou dependendo do ponto de vista , que ainda há um pouco vida para se lutar mesmo dentro daquel cenário.

Assim, durante seu ato final, onde qualquer lembrança agradável que os jovens poderiam ter torna-se apenas motivação para suas psicopatias, pois tais sentimentos familiares agora são uma vaga lembrança, onde independente de quem que seja aqueles jovens não terão qualquer remorso em tirar dos seus caminhos de libertação - ratificado na plano final, em que os dois estão ciente (mesmo que instintivamente) do que eles se tornaram.

Cotação 4/5