Não olhe para trás (Danny Collins)

Direção: Dan Fogelman

Elenco: Al Pacino, Annette Bening, Jennifer Garner, Bobby Cannavale, Giselle Einsenberg e Christopher Plummer.

Nunca é tarde para um homem em reparar seus erros, mesmo que tais acontecimentos tenham sido causados puro e simplesmente por desvios de caráter, consequência por ter transformando-se naquilo que justamente sua essência sempre refutou.

Assim, conhecemos o ainda jovem Danny Collins um trovador ao estilo de Bob Dylan no começo da carreira de sucesso ainda nos anos 70, que consequentemente começa a chamar a atenção da mídia. E numa de suas entrevistas, o músico revela que um de seus inspiradores é John Lennon, cuja carta de agradecimento escrita pelo ex-beatle somente chega a suas mãos décadas depois - gerando o contraste entre o conteúdo utópico da carta e o estado atual de Collins - cujo objeto (carta) será com uma cruz moral a ser carregada para sua redenção.

Entretanto, contando com uma abordagem levemente cômica, um elenco inspirado e uma bela trilha sonora (obviamente com musicas de John Lennon), “Não olhe para trás” se torna uma simpática história de relacionamentos entre figuras carismáticas, onde o diretor Dan Fogelman com um corte e um bonito plano sequência, apresenta naquilo que Danny Collins (Pacino) se transformou: um famoso astro, milionário e excêntrico que não lembrava nada aquele garoto tímido do passado.

E para contrastar este novo com o atual estado de Collins, nada melhor que a figura cansada de Al Pacino com seu olhar trôpego, seu sorriso, roupas coloridas e blusão sempre aberto mostrando seu crucifixo de drogas, compõe o estereótipo perfeito de um astro que envelheceu e ficou preso ao passado - assim como seu público que não se interessa por outra musica que não seja seu grande sucesso “Baby Doll”.

Todavia, o roteiro do próprio diretor baseado em alguns fatos reais por vezes se torna vítima da própria armadilha ao percorrer clichês e buscar resoluções previsíveis - principalmente no terceiro ato - quando o protagonista comete um deslize e boa parte do público sabe o que vai acontecer no segundo seguinte (ou quando ciente de que a situação financeira de Collins se tornou algo no nível de conto de fadas, a direção se obriga a criar abruptamente uma crise para tal cenário para assim humanizar o personagem).

Outro ponto favorável e a montagem que conseguir trabalhar de maneira homogênea os dois núcleos que envolvem Collins: O núcleo familiar e o hotel. No primeiro, mesmo sem aprofundar muito nos conflitos entre Collins e seu filho Donnelly (Cannavale), - provavelmente com receio da quebra do ritmo o longa - a direção consegue tirar o suficiente dentro do contexto para nos identificarmos com aquele drama de um filho que cresceu sem o pai que nunca o procurou. O cenário é completado com a participação discreta de Jennifer Garner e a sua filha Hope (Eisenberg), cuja pequena atriz rouba todas as cenas em que aparece.

Contudo, o charme todo se concentra na química entre Al Pacino e Annette Bening, que mesmo com figurino e penteado (para justificar sua posição dentro do hotel) a envelheça ; isso não impede de notarmos a atriz e seu sempre belo sorriso (e voz), contracenando de maneira leve com Al Pacino e servindo como tentativa de fuga para as loucuras do astro - contando também com o suporte de seu amigo Frank, interpretado por nada mais que Christopher Plummer.

Um filme agradável, sem grandes conflitos, que cumpre sua função de apresentar um personagem carismático, pronto para ajudar quem o cerca, mas que se torna passível de percalços pelo preço que a fama sempre cobra.

Cotação 4/5