O Ano mais Violento

Diretor: J.C.Chandor

Elenco : Oscar Isaac , Jessica Chastain, David Oyelowo, Elyes Gabel e Alessandro Nivola.

Grandes filmes lidam também com pequenas intenções, e quando seus argumentos - mesmo que implícitos - são bem apresentados, resgatando um estilo e época que se tornou tão marcante para o cinema, não podemos deixar de apreciar e elogiar tal obra. O diretor J.C.Chandor (“Até o fim”) realiza mais um excelente trabalho ao apresentar personagens que surgem já carregando o peso do passado, com diretor trabalhando de maneira exemplar as premissas dos envolvidos e deixando que o público aos poucos construa tal mosaico, em clima típico dos thrillers dos anos 70.

O roteiro do próprio Chandor foca principalmente no sonho americano (em plena crise econômica do governo Reagan) que é o alicerce de pessoas a margem da sociedade que desejam alcançar o sucesso dentro das leis e sem resquício daquilo que foram um dia e da violência que os cerca. Uma violência não explícita, mas que atinge a todos - e deixando bem claro que ninguém ali é inocente.

Assim conhecermos Abel Morales (Isaac): um imigrante que tenta a todo custo expandir seu negócio de transportes de combustível com o apoio de sua mulher, mas que ao mesmo tempo sofre pressão de funcionários, amigos e sindicato que o força indiretamente a agir como nos “velhos tempos”, - como tal comportamento fosse um fantasma sempre a espreita. Um grande exemplo deste passado presente é a presença de Julian (Gabel), também um imigrante, mas que ao contrário de Morales, sucumbe as poucas oportunidades, criando o paralelo perfeito do caminho que o protagonista tentou a vida toda evitar.

É admirável como Morales lida com os fatores externos e assim levantar certa quantia para a compra de um terreno de grande importância para seu negócio. Durante toda sua peregrinação o protagonista se mostra um personagem “incorruptível” - que fica sempre no limite, mas sem jamais perder o controle. O trabalho do ator Oscar Isaac é excelente e facilmente nos identificamos com sua persona e determinação (e como estamos falando de influências, não podemos deixar de notar obviamente a semelhança do protagonista com Al Pacino em “O poderoso Chefão”, e a referência clara ao clássico na cena que Morales se reúne com os outros chefes do ramo de combustível).

Quanto aos personagens que completam tal cenário não podemos deixar de destacar Anna (Chastain), uma mulher que ao contrário do marido não hesita em sugerir a violência para defender a família, ao mesmo tempo em que possui um passado tão obscuro quanto do marido. Anna torna-se um fator de pressão para ele e metáfora para a violência que os cerca interna (uma mulher que nunca vemos sua verdadeira origem, mas ao mesmo tempo ficamos ciente de sua força). Assim como o personagem Lawrence (Oyelowo) que confirma que ali ninguém está livre daquela rede de favores e compromissos políticos.

Para realçar tal clima e contexto, a fotografia tem um papel de suma importância na construção de tal cenário. Usando como pano de fundo um Nova Iorque decadente, suja, abandonada e fugindo completamente dos lugares comuns ao grande público, cria-se o pano de fundo perfeito para a ações e conflitos do longa. Um grande exemplo do bom aproveitamento da direção de artes é na sequência da excelente perseguição ocorrida entre os becos e trilhos trens - onde imediatamente nos leva a pensar em “Operação França”.

Bem estruturando, o longa pode causar certa estranhamento por não apresentar de maneira clara o detalhes da trama, mas este é o grande mérito da direção e de todos os filmes que usam deste recurso: confiar na inteligência do espectador. Sendo assim “O ano mais violento” se consolida com um excelente thriller a moda antiga, sem jamais soar datado e permeado de ambiguidades referências que engrandece a nossa experiência.

Cotação 4/5