Para Sempre Alice (Still Alice)

Direção: Richard Glatzer e Wash Westmoreland

Elenco: Julianne Moore, Kristen Stewart, Alec Baldwin, Kate Bosworth e Shane McRae.

 

Ganhadora do Oscar de Melhor Atriz, Julianne Moore confirma as expectativas ao construir de maneira sensível, uma mulher que tem sua vida completamente mudada por um caso raro de Alzheimer. Tendo assim que conviver com o aprisionamento forçado por esta doença cruel, que apenas não destrói fisicamente o ser humano, mas sua própria existência.

Alice (Moore) é uma respeitável professora de linguística, casada e mãe de três filhos adultos, que passa boa parte de seu tempo se dedicando ao trabalho e cuidando do corpo e mente. Tornado assim a perda de tais habilidades e raciocínios cotidianos um medo ainda mais difícil de suportar.

Baseado no romance de Lisa Genova, os méritos do longa entretanto passam quase que exclusivamente pela atuação de Julianne Moore, principalmente se levarmos em conta o insosso e descartável elenco (que inclui Kate Bosworth) que são meros coadjuvantes sem peso para a historia.

Podemos exemplificar tal afirmação tendo como exemplo o momento que Alice recebe o diagnóstico. A direção ciente da capacidade e competência da atriz, usa a voz do médico em off, deixando para a atriz toda responsabilidade de passar para o público uma gama de emoções. E Julianne Moore com seu sorriso e olhar expressivo que se entrelaçam, ajudam a criar a química perfeita para a identificação do público nesta bela interpretação.

Todavia, certas coincidências e situações para enfatizar a dramaticidade da historia proferidas pelo roteiro, como o fato do marido de Alice (interpretado por Alec Baldwin trabalhar para o ramo farmacêutico) soam forçadas.

Assim como o conflito gerado com a presença de Kristen Stewart que não foge o padrão “rebelde sem causa”, tornando tal conflito frágil e pueril. Principalmente pela atuação de Kristen, que apesar de esforçada, soa rasa ao tentar conferir um peso a personagem (ainda mais dificultado pelo fato da própria personagem ser uma atriz).

Um dos poucos momentos que a direção se faz notar de maneira positiva sem a necessidade da atuação (não exatamente a não presença) da protagonista, se dá na fotografia por vezes desfocada para criar aquele mundo que começar a se tornar irreconhecível para Alice. Assim como uma delicada fusão de imagens onde os medicamentos da protagonista são transformados em pequenos e coloridos doces, simbolizando que no estágio em que a doença se encontram, tais remediações não surtirão mais efeito. E que qualquer resquício da antiga mulher que ali existia, se foi para sempre (aumentando ainda mais a solidão da personagem).

Entretanto a direção peca também por não conseguir sair do clichê e melodrama em seu final ao inserir imagens do passado de Alice (através de câmeras 16 mm que esta se tornando uma praga) tentando sem sucesso, criar o clima para as metáforas frágeis do roteiro (“Borboletas tem vida curta”). Mas que ainda sim tenta abrir espaço para a conscientização da doença e suas consequências até de maneira singela, exemplificado nos poemas de Elizabeth Bishop:

“A arte de perder não é nenhum mistério . Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério. Perca um pouquinho a cada dia...”

No seu desfecho “Para sempre Alice” se mostra mais inofensivo, frágil e sem grandes ambições, ainda que valha pela grande atuação de uma atriz no seu auge a serviço de um assunto relevante no qual é ninguém é imune.

Cotação 3/5