Força Maior (Force Majeure)

Direção: Ruben Ostlund

Elenco: Johannes Kuhnke, Lisa loven Kongsli, Kristofer Hivju, Vicent Wettergren, Clara Wettergren e Fani Metelius.

Analisar o longa metragem sueco “Força Maior” se torna um simples e belo exercício social e antropológico, por nos apresentar as reflexões nos relacionamentos entre sexos opostos na visão de um tradicional núcleo familiar, mediante os questionamento comportamentais em face a uma situação conflitante ocasionada por fatores externos.

Assim somos apresentados a Tomas (Kuhnke) e Ebba (Kongsli) que acompanhados dos filhos Vera (Wettergren) e Harry (Wettergren) passam suas férias nas montanhas dos alpes para prática do esqui. Mas devido ao acidente natural durante um jantar e a consequente reação de Tomas, é desencadeada uma série de questionamentos entre o casal e suas posições - principalmente de Tomas - com os filhos e amigos.  

Um das grandes méritos do diretor Ruben Ostlund foi usar de tal artificio relacionado ao ambiente que os cerca como metáfora da influência dos elementos naturais no comportamento humano que afloraram seus verdadeiros instintos. Tais elementos são tratados de maneira elegante, sem apelar para grandes saltos no comportamento de seus envolvidos ou no desenvolvimento da historia – assim como certa maneira demonstrando nossa insignificância diante da própria natureza.

A fotografia do filme ajuda a realçar o clima gélido e coberto de neve, assim como a direção abusa dos sons diegéticos vindos em sua maior parte dos mecanismos dos bondinhos (que ajudam a levar os esquiadores às partes mais altas) realçando a solidão - não isolamento - da família dentro da narrativa.

Pontos também para a edição de som que faz um bom trabalho ao pontuar ao criar o clima de apreensão pelas explosões típicas das estações de esqui. E claro, vale ressaltar o contraste pela trilha das “Quatro estações” de Vivaldi (Summer) naquele clima tão frio.

O roteiro - do próprio diretor - ratifica a sua intenção e necessidade de expandir tais discussões passionais sobre o comportamento, inserindo o casal vivido pelos ótimos Kristofer Hivju e Fani Metelius que são de certa maneira o alívio cômico, mas sem jamais caírem no caricato - como visto no ótimo e divertido diálogo entre os dois antes de dormirem.

Tal casal tem grande importância, tanto como para prolongar a discussão para fora daquele mundo e também criar a crítica certa do comportamento do próprio homem diante de outros da mesma espécie, como visto nas sequências de “libertação” de Tom, auxiliado por Mats (Hivju) - que usa argumentos surreais para defender o comportamento de Tomas, como quisesse defender a espécie.

A construção e desconstrução de Tomas são feitas de maneira delicada. Se antes tinhas um pai de aparentemente dedicado à família, aos poucos vamos tomando certo desprazer com sua persona e postura, mas acima de tudo humana ao confrontar seus medos e admitir suas falhas sem pudor - o que não o tornará menos homem diante da sociedade.

Destaca-se também análise sobre o comportamento de Ebba e da mulher em si como o centro e balança emocional deste conflito: uma mulher que arca não somente com o fato de fazer parte deste embate, como ainda tenta evitar que tal influência seja repassada para os filhos (como um ciclo natural), diante do momento frágil do relacionamento com o marido.

O filme deixar claro em sua “conclusão” que tantos homens e mulheres estão percorrendo o mesmo trajeto de modo coletivo com suas diferenças, medos e defeitos, mas acima de tudo lado a lado. Sendo tal caminho ainda longo e sinuoso, mas que possamos no final evoluir como elementos desta sociedade.

Cotação 4/5