Promessas de Guerra (The Water Diviner)

Direção: Russell Crowe

Elenco: Russell Crowe, Olga Kurylenko, Yilmaz Erdogan, Cem Yilmaz, Jay Courtney, Isabel Lucas e Dylan Georgiades.

Sempre que um ator se envereda no ramo da direção, imagino que tal profissional tenha adquirido experiência suficiente para assumir o comando de uma produção. Não que isso seja item obrigatório para o sucesso (ou fracasso) de um filme - contudo vários atores/diretores estreantes já lançaram verdadeiros clássicos como “Gente como a Gente” (Robert Redford) ou Imperdoáveis (Clint Eastwood). Todavia neste “Promessas de Guerra”, o ator Russell Crowe parece não ter aprendido muito, apresentando uma direção errática, tornando seu drama de guerra em algo forçado, previsível, difuso, que peca por excessos nas dramatizações e ainda com certas doses sexistas.

Iniciado através de um In media res (jogando o espectador incialmente na ação) no litoral da Turquia, o longo tenta conferir certo apreço técnico e histórico com a batalha de Gallipoli no ano de 1915 - que levou a morte milhares de soldados Turcos e Britânicos - usando planos conjuntos, alternando com outros mais fechados, principalmente quando em cena surge o personagem Major Hasan (Erdogan), que demostra ser o personagem mais dimensional do longa.

 Ao mesmo tempo em que conhecemos o pacato Connor (Crowe) que leva sua rotina em busca de melhores condições para sua pequena fazenda, mas que mesmo do outro lado do mundo ele não ficará distante do conflito (este mundo distante que por mais que a direção tente exaltar suas belezas e cores, não saem do lugar comum ao evidenciar apenas o óbvio de suas tradições, limitando a visão do público, como as produções hollywoodianas costumam fazer).

Assim já começamos a notar problema no roteiro com relação às motivações dos personagens e suas premissas. Como o fato de Connor aparentar pouca preocupação com o fato dos filhos estarem na guerra ao contrário de sua esposa que o culpa pelo ocorrido – algo que somente ficamos cientes do drama após a constatarmos a situação psicológica da mulher (soando de certa maneira frágil por a Austrália na época ser uma colônia inglesa, a convocação dos jovens deveria ser algo “aceitável”). Roteiro este que também trabalha de maneira inverossímil o comportamento dos militares diante de Connor, que aceitam seus argumentos e comportamento como algo normal para apenas o mesmo pedir desculpa como nada tivesse acontecido, quando este parte em busca dos filhos “somente” após uma tragédia.

A narrativa do longa é recheada de rimas visuais frágeis que inutilmente tentam sem sucesso conferir um peso a cenas, como o fato do protagonista passar um longo tempo cavando um poço, apenas para a esposa emendar com a frase : “Você acha água , mas não seu filhos” - ou quando no terceiro ato, Connor faz um trocadilho infame (“fazendo Art”) com o nome do filho (Arthur). Assim como o fato do roteiro querer posicionar o público frequentemente quanto ao tempo que passa a ação, assim não confiando no sua própria capacidade de passar com clareza as informações ao espectador.

O roteiro em nenhum momento consegue determinar uma direção para o longa ao trabalhar estilos diferentes, e ainda de maneira óbvia e rasa. Tanto que durante o terceiro ato, o filme se entrega a aventuras, e alívios cômicos inconvenientes, que por vezes nos faz esquecer qual o verdadeiro objetivo do filme - principalmente resoluções do protagonista que ao levarmos ao pé da letra seriam quase mediúnicas. Mesmo que tais problemas se resumissem apenas a esta abordagem o filme ainda poderia render algumas situações a serem pensadas, principalmente por ter como pano de fundo (mesmo que superficialmente) uma guerra estúpida – como todas – e que acaba pouco explorada como contexto histórico.

Entretanto nada é mais comprometedor quando as situações vistas no relacionamento entre Connor e Ayshe (Kurylenko). Por mais química que houvesse entres os atores (e não há) seria inútil diante de situações incômodas e forçadas, como o fato de Connor ao chegar à Turquia “coincidentemente” encontra um hotel, administrado por uma bela mulher, viúva e com um filho pequeno (extremamente carente e chato). Aonde, como um herói o protagonista salvará suas vidas da opressão das tradições da família e religião - simbolizados em cenas com direito a uma irritante trilha sonora e câmera lenta dignas de romances mais novelescos possíveis.

O diretor ainda consegue piorar ao tentar transformar certa “denúncia” contra mulheres em um discurso machista, onde no único diálogo entre mulheres do filme - a própria Ayshe e uma prostituta, vivida por Isabel Lucas - é sobre o órgão sexual masculino didaticamente mostrado através de um objeto em cena. Ou quando em determinada sequência a câmera e posicionada exatamente na altura das nádegas da atriz, simbolizando a visão de Connor - sutil não?

Mesmo quando a direção apresenta um cuidado em sua abordagem em determinadas cenas, como na fotografia amarelada daquele ambiente antigo, ou no figurino que demostre a aproximação do casal principal através da cor de suas vestimentas na cena final, tudo é posto abaixo com o contexto em que estão inseridas. Enfim, “Promessas de Guerra” se apresenta um filme falho e porque não bagunçado, que mesmo o carisma de seu ator principal não é suficiente para ocultar os problemas que literalmente ele mesmo criou.

Cotação 2/5