Samba

Direção: Oliver Nakache, Eric Toledano.

Elenco: Omar Sy, Charlotte Gainsbourg, Tahar Rahim, Izia Higelin, Isaka Sawadogo e Liya Kebede.

Quando um filme busca retratar a situação de pessoas que lutam em seu dia a dia por um pouco de dignidade dentro de um país estrangeiro sempre será válido seus argumentos e premissas. Entretanto este “Samba”, se perde em seu contexto ao não se aprofundar nas tais questões levantadas e ainda apresentar personagens rasos dentro de um roteiro por vezes falho, que não consegue durante boa parte ser contundente em suas abordagens. Um longa que se propõe a ser uma comédia dramática cujas situações - por mais carismáticos que sejam os atores - desviam a atenção do foco principal prejudicando sua identificação.

Iniciado com um plano sequência dentro de uma festa de casamento, somos apresentados às peças principais da discussão: Imigrantes ilegais que sobrevivem em trabalhos temporários dentro de restaurantes, construções, shoppings franceses ou qualquer coisa que rendam míseros trocados que sirvam de alimentos da esperança de dias melhores em terras estrangeiras. Pessoas que buscam um pouco de dignidade para olhar nos olhos das pessoas sem medo de serem presas ou recriminadas.

Os diretores Oliver Nakache e Eric Toledano repetem a fórmula do sucesso de “Os intocáveis”, onde trata um assunto delicado com altas doses de humor. Humor este que funciona tipo “apesar de tudo ainda sorrimos”, mas que neste “Samba” apesar de boas sequências, destoam mais do que servir de proposito narrativo - como na sequência em o personagem Wilson (Rahim) pratica um strip teaser em um andaime no alto de um prédio ao som de Gilberto Gil. Entretanto outras funcionam bem como a sequência em que as agentes do serviço de imigração tentam desesperadamente entender aquelas pessoas de nacionalidades diferentes (pontos para a direção de usar a lógica da falta das legendas para que o público que assim como as atendentes fique sem ciência do que é dito pelos estrangeiros).

Os personagens em si em sua maioria se tornam não exatamente ambíguos, mas apenas vítima do roteiro que tornam suas ações apenas como desculpa para reviravoltas e contextos dramáticos do filme. E devido à falta de firmeza na construção de tais elementos, os mesmos vão se tornando incoerente, frágeis e até caricatos, como por exemplo, o fato de Samba (Sy) não demostrar nenhum constrangimento ao se envolver com a mulher de seu amigo que ele jurou ajuda em um momento de desespero. Ou a fato do personagem Wilson, um “brasileiro típico” existir apenas para reforçar a imagem de latin lover e dançarino que os homens daqui têm por lá - que tem interesse na advogada Manu (Higelin) , sendo inicialmente mostrada como uma mulher adversa a envolvimentos pessoais com os imigrantes.

Entretanto, valem ressaltar a personagem Alice (Gainsbourg) que se sai bem como uma mulher insegura e que sofre de transtornos comportamentais e que vê em Samba uma chance de ter novamente uma chance de uma vida menos solitária. Mesmo que o roteiro - novamente - não consiga contextualizar de maneira marcante a situação deles, sabotado ainda mais no terceiro ato ao se entregar a soluções previsíveis de clichês românticos.

Mesmo assim a direção consegue extrair singelos momentos mostrando ao público aquelas pessoas, independente de suas origens, sofrem das mesmas alegrias, tristeza e paixões; como na sequência que todo elenco se reúne em uma festa (ao som de Jorge Ben) para revelaram seus sentimentos. A química entre eles funciona, principalmente vido do elenco mais experiente, que mostra dignidade austeridade e bom humor quando estes presentes, principalmente a figura de Youngar Fall que vive o tio de samba e deseja para o sobrinho um caminho menos duro que ele teve ao chegar a Paris.

Contudo, o roteiro ainda apresenta uma estrutura cansativa para seus 120 minutos, pois constantemente o protagonista retoma sempre ao mesmo ponto: Samba luta por seu reconhecimento, se envolve com Alice, para depois novamente voltar à questão imigratória. Ratificando assim certa falta de inspiração e irregularidade se aprofundar em tal cenário que merecia uma melhor discussão. E prejudicdo ainda mais em seu final ao tenta criar forçadamente um clímax, que a esta altura não tem impacto algum em sua narrativa.

Cotação 3/5