Phoenix

Direção: Christian Petzold

Elenco: Nina Hoss, Ronald Zehrfeld, Nina Kuzendorf e Imoge Kogge

Até que ponto pode chegar o desejo de uma pessoa retomar sua vida anteriormente destruída pelos horrores da guerra? Assim neste Phoenix somos apresentados diretamente a Nelly Lenz (Hoss), uma sobrevivente de tais horrores sendo levada a uma clínica por usa amiga Lene (Kuzendorf) para reconstrução de sua face deformada pelas queimaduras. Após retornar a cidade natal, tenta localizar o marido (que a deu como morta) para assim conseguir inutilmente retomar sua vida, mesmo com todos os traumas e mudanças que sofreu.

Somos imediatamente remetidos a um clima de suspense típico de Hitchcock, com seus personagens com passados e objetivos ocultos que ajudam a montar excelente cenário para estudos destes indivíduos  e sua as motivações (influenciado mais precisamente por "Um Corpo que cai"). O diretor Christian Petzold conduz  o longa de maneira inteligentemente sutil, exaltando os delicados e econômicos cortes, transformando o filme bem linear durante toda sua projeção, entretanto consegue agilizar a narrativa e assim exigindo a atenção do público aos detalhes contido nas ações dos personagens. Como exemplo na cena em que podemos ver Nelly sendo avisada que seus curativos serão retirados em breve, para na cena seguinte já vermos a protagonista praticamente recuperada e de volta a sua cidade natal.

O roteiro do próprio diretor também trabalha de maneira exemplar ao demonstrar a questão do pós-guerra que se instalou na Alemanha após a derrota: Cidades e economias destruídas, onde a única diversão são os tradicionais Cabarés do inicio do século, onde cervejas geladas e dançarinas são os alívios para os soldados e população que ali ainda vivem. Tudo isso realçado pela fotografia escurecida dos becos e lugares abandonados e o vermelho denunciando um antro de amor e violência que se tomou conta do local.

O longa não se contenta em apenas trabalhar a questão deste cenário caótico, mas inserir dentro do contexto para o drama de Nelly , que ao reencontrar seu marido se decepciona com as atitudes frias e distante dele. Pois esta dor do luto serve apenas para ocultar o interesse dele na questão financeira da ex-esposa e assim usar esta "nova mulher" para ajudar em seu plano. O desenvolvimento é cuidadoso, pois vemos uma mulher dividida entre a forma e o conteúdo: se internamente ela deseja a todo custo ser aquela antiga Nelly, aos poucos a decepção vai tomando conta externamente devido ao comportamento por vezes covarde do marido que pode ter tido influência direta no que ela se tornou.

E para isso a atuação de Nina Hoss é fundamental, ela transforma Nelly em uma mulher expressamente humilhada com sua própria aparência e que tem dificuldade em esconder que seu passado e se reconhecer atrás da cirurgia. Onde cada passo vacilante e trôprego dado por ela somos remetidos - além da sua dor - a sua insegurança em frente ao cônjugue. Podemos pensar em um tom sexista, pois durante o "treinamento" dela para copiar os trejeitos dela mesmo, o público percebe que cada vez mais ela se rende a uma humilhação para algo que provavelmente nunca vai acontecer.

A direção segura de Petzold fica evidenciada a cada tomada e cena. E se o fato de praticamente inexistir um trilha sonora para o filme, tornando as cenas contemplativas e lentas (mas jamais entediantes devido ao clima que somos inseridos), o antigo sucesso dos anos 40 "Speak Low" tem importância fundamente no desfecho do longa. Pois além de servir como redenção para a protagonista, substitui de maneira sublime qualquer diálogo que pudesse a vir atenuado apenas pela interpretação cheia de dor e revelações da atriz - onde apenas em um pequeno gesto temos uma gama de sentimentos para os acontecimentos que virão a seguir.

Cotação 4/5