Corações de Ferro (Fury)

 
Direção: David Ayer

Elenco: Brad Pitt, Shia LaBouf, Michael Peña, Jon Bernthal, Norman Ellison e Alicia Von Rittberg 

Filmes guerra sempre me atraíram por mostrarem personagens e seus conflitos internos sendo discutidos dentro de um cenário de desolação e morte. Contudo, “Corações de Ferro” mesmo trabalhando com um conceito não muito explorado (batalhas de tanques) e com um design de produção interessante, tem seu resultado final comprometido por parte de sua narrativa e elenco.

Como o filme do diretor David Ayer tem como mote os tais conflitos pessoais entre os soldados, era de grande importância que tal elenco fosse capaz de passar certa credibilidade. Entretanto qualquer tentativa é colocada a prova com os personagens Bible (LaBeouf), Gordo (Michael Peña) e Travis (Bernthal), sendo apresentados de maneira superficial, caricata e incômoda em vários momentos, comprometendo a identificação com o público.

A interação entre os soldados não se torna um desastre total apenas quando Brad Pitt impõe sua presença. Contudo nem mesmo a presença do astro é capaz de salvar algumas passagens como a vergonhosa sequência ocorrida durante um jantar na casa da jovem Emma, interpretada por uma bela Alicia Von Rittberg com uma composição de figurino forçada e destoante no contexto para realçar uma sedução desnecessária.

Tal química funciona apenas quando tratamos e analisamos o relacionamento entre Collier e o soldado Norman (Lerman), em que Pitt assume uma posição de tutor do jovem aprendiz. Tal envolvimento rende boas cenas que engrandece os personagens, como o fato de Collier forçar que Norman execute friamente um nazista. Neste ponto o diretor muda o foco, fazendo o público assumir o ponto de vista do jovem, e se identificando naquele aprendizado feito de maneira cruel. Admito que de um início frágil como persona, Norman cresce durante o filme, e a direção até consegue usar a narrativa a favor, com o fato de usar o garoto como força dramática do filme pela sua perda e olhos para os horrores da guerra, mas nada de excepcional ou muito sólido.

Entretanto, alguns pontos a direção acerta em sua narrativa (por mais que sabote a si mesma): a fotografia do filme é por vezes é apreciável, como na bela cena em que os combatentes atravessam um campo com refugiados envolvidos em neblina. Ponto também para a reconstituição de época caprichada , principalmente dos acampamentos militares moribundos e sujos. Todavia , por mais bem feitas que seja a direção de artes e a concepção das maquinas e seus detalhes interiores - criando um mundo particular dentro daquele minúsculo espaço- infelizmente o longa não consegue dar vida para aquelas máquinas de batalha, ainda mais usando um recurso que seria mais apropriado para um filme com carros de corrida.

As cenas que envolvem as batalhas entre os tanques são bem coordenadas, mas novamente a narrativa peca absurdamente em tornar tudo em um grande exercício pirotécnico típico de Star Wars (com direito a cores definidas nos traçantes de tiros), denunciando certa falta de mise-en-scène ou achar que somente assim chamaria a atenção dos espectadores (assim como uma trilha sonora expositiva em vários momentos).

Em seu clímax “Corações de Ferro”, entrega uma boa sequencia pela sua carga dramática, e a direção consegue transmitir o tom claustrofóbico daqueles homens, contudo novamente perde pontos com recursos forçados para potencializar o clima (como o usado na cena um pouco inverossímil entre Collier e um atirador de elite nazista). Assim quando novamente o filme necessita que o seja tirado mais que somente tiros e bombas, o elenco já perdeu a identificação do público, fragilizando a estória, restando apenas a sensação que faltou aparar arestas para um experiência menos esquecível e irregular.

Obs: “Fury” era facilmente traduzível para o português, mas é perda de tempo reclamar destas “tradição milenar” das distribuidoras. Entretanto usar o termo "Senta a púa" (que se tornou o “grito de guerra” dos combatentes brasileiros na 2° Guerra) em personagens estrangeiros é descabido, soando como uma brincadeira desrespeitosa e ratificando que o malefícios da dublagem estão chegando nas legendas cada vez mais forte.

Cotação 3/5