Cinqüenta tons de cinza (Fifty shades of Gray)

Direção: Sam Taylor Johnson

Elenco: Dakota Johnson, Jamie Dornan, Jennifer Ehle, Eloise Mumford e Marcia Gay Harden

Resumindo: a “esperada” adaptação do romance “Cinquenta tons de cinza” (que não li) é tão mal concebida que decepciona em qualquer ângulo possível que se possa ter. Um longa que naufraga tanto como drama erótico quanto no desenvolvimento de seus personagens, soando tudo como um grande jogo de imagens com elementos que apenas existem por obrigação sem qualquer cuidado ou critério dentro de sua narrativa.

Por mais que se tente abrir uma discussão sobre desejos reprimidos, é triste ver que tal representatividade feminina seja apenas para mostrá-la como submissa e objeto dos desejos sadomasoquistas de homens poderosos – aqui representando como algo surreal, digno de comerciais de perfumes e carros importados.

O roteiro de Kelly Marcel e da própria escritora E.L James aborda de maneira óbvia e superficial seus personagens: Christian Gray (Dornan) é um executivo, jovem, atraente, poderoso e metódico dono de império de comunicações. Anastasia (Johnson) uma jovem estudante dividindo um apartamento com amiga e vestindo roupas simples e floridas, que passa o filme todo mordiscando os lábios (criando uma falsa sensualidade, fazendo-a soar uma mulher inerente a sua independência e maturidade).

Assim, os protagonistas são personagens que em nenhum momento se mostram identificáveis ou com o mínimo de coerência em seus atos. Como o fato de Gray insistentemente dizer que não tem por hábito dormir com ninguém (tentando dar uma carga dramática), mas bastou Ana revelar um segredo para que tal regra caísse por terra várias vezes, diga-se de passagem. O filme ainda nos presenteia com diálogos dignos de tantos filmes adolescentes (vide crepúsculos da vida) e não de um casal de adultos : “Não tenho coração”, “Não sou homem para você” ou “Posso tirar a roupa se quiser”. Ou cenas típica de romances como tapinhas e briguinhas de casal na chuva por assuntos banais. A diretora Sam Taylor Johnson conduz o filme sem qualquer pingo de criatividade e sabota qualquer tentativa em engrandecer a narrativa com metáforas de mau gosto e mal concebidas como alusões fálicas com um lápis e ao próprio prédio onde Gray trabalha ("discretamente identificado"). Assim como ao usar uma fotografia avermelhada na cena da leitura do contrato, tornando-se algo visualmente abrupto e deslocado com o restante do longa.

A direção falha também por não conseguir fluir a historia e sua premissa. Durante todo o filme é um tal de assina o contrato ou não assina o contrato cujo detalhes contidos nele são simplesmente vexatórios. E quando tenta fugir um pouco disso a situação piora, ao criar um drama para Christian e consequentemente uma possível identificação com o público (mesmo poderoso ele teve um passado de sofrimento) tudo extremamente frágil e caricato.

Se abrirmos espaço para as tão faladas cenas eróticas envolvendo Ana e Gray (estilo 9 ½ semanas de amor), as coisas sequer tem alguma melhora, pois qualquer erotismo ou sensualidade que poderia (poderia) ter é descartado pela direção que não consegue usar um recurso sequer (trilha, fotografia, câmera etc.) para enalterecer as seqüências ou criar o clima necessário para as mesmas , por mais belos que sejam os atores (vide os suspiros do público feminino com a nudez parcial do ator). Devemos lembrar que tratando-se de um filme que deveria ter altas cargas de sensualidade e erotismo, jamais devemos confundir tais características com algo explicito, vulgar ou intrusivo (como diria Gray : "Eu não faço amor, eu trepo...com força").

Enfim, “Cinqüenta tons de cinza” é chato e equivocado. Comprovando cada vez mais que se precisa de muito pouco para agradar um determinado público. Não que seja contra a adaptações, até porque isso leva as pessoas ao cinema (o que é bom). Mas se for para levar o nível de discussão a filmes com este (como visto nas redes sociais semanas antes da estreia  que era o assunto principal), tenho medo do que virá a seguir.

Cotação 1/5