Sniper Americano (American Sniper)

Direção: Clint Eastwood

Elenco: Bradley Cooper, Sienna Miller, Luke Grimes, Keir O’Donnell e Jake McDorman.

Culpar “Sniper Americano” de uma propaganda americana é de certa maneira eufemismo, por tratar da invasão ao Iraque através dos olhos de um militar em campanha no país árabe. Contundo, fosse este militar um homem "apenas" uma peça do jogo irracional no cenário politico, qualquer problema em seu contexto poderia amenizar tal discurso nacionalista e tornar a discussão mais racional.

Mas sendo tal personagem, um homem tido como lenda devido às mortes em serviço (os números podem passar de 200) em um país invadido e taxado como inferior, fica um pouco difícil ideologicamente termos certo apreço, por mais que o trabalho de Bradley Cooper como Chris Kyle seja bem realizado – inclusive fisicamente, ganhando vários quilos.

Tal identificação ainda é prejudicada por tratarem os iraquianos rotineiramente como os grandes vilões (não que sejam inocentes) capazes de atrocidades, como: mutilações e fuzilamentos públicos. O filme também peca na criação de um vilão à altura de Kyle, surgindo apenas para ser subjugado pela superioridade técnica do americano como se estivéssimos em uma competição olímpica de tiro.

O roteiro de Jason Hall baseado no livro do próprio Chris Kyle o apresenta ainda criança, (mas já identificado com armas) tendo na rígida criação do pai e opressão religiosa o sentimento de crueldade que o mundo lhe reservaria. Portanto é válido se usarmos tais itens para explicar um pouco sua situação psicológica – mesmo que inicialmente o personagem demostre falta de inerência a isso.

Entretanto sua condição é ratificada quando, devido ao 11 de setembro imediatamente seu desejo de matar é aflorado. A partir deste momento começa a saga do homem que jamais conseguirá sobrepor sua racionalidade a psicopatia – nem com o nascimento dos filhos.

O elenco de apoio se não descartável, é incapaz de criar a base necessária para o cenário dramático por não conseguir fazer o público se sensibilizar pelos (poucos) soldados feridos e seus dramas particulares. Assim como o fato da esposa do protagonista, Taya (Miller), surgir de maneira vulgarizada e forçada . Entretando aos poucos vai evoluindo dentro da historia servindo a narrativa do filme e ao comportamento de Chris, como na cena que ela grávida, é tomada pelo desespero com a ligação perdida de Kyle.

Se em sua premissa o filme polemiza, Clint Eastwood tem neste longa uma boa direção que lhe é característica, mesmo com alguns equívocos. Podemos ter como bons exemplos às sequências passada nas zonas de guerra, com destaque aquelas que envolvem crianças, que pelo contexto e riscos assumidos por Kyle são tensas e corajosas. O trabalho de som  também é elogiável, potencializando os disparos de maneira correta quando necessário -- como visto na boa sequência final, ocorrida em meio a uma tempestade de areia.

Contudo alguns outros pontos tornam tal direção problemática: por mais que seja necessário demonstrar a crescente psicopatia de Kyle ao se reencontrar com a família e o sentimento de vazio, as idas e vindas do protagonista durante o tempo que serviu no Iraque, tal recurso por vezes compromete o ritmo do filme e enfraquece sua narrativa. Assim como a vergonhosa cena em que Kyle segura seu filha recém-nascida no colo – um boneco que chega a incomodar de tal maneira o espectador a ponto retirá-lo do filme e pensar como esta cena passou na pós-produção.

Confirmando pelo roteiro no terceiro e óbvio ato, Sniper Americano torna-se realmente uma ode ao seu protagonista e ações. Esperando, da minha parte, que boa parte do público realmente possa questionar os atos retratados não como uma apologia ao poderio de um país, mas sim a análise de um homem fragilizado e suscetível a tal violência -  o que acredito ser bem difícil. 

Cotação 3/5