Os Embalos de Sábado à Noite

Ano: 1977

Direção: John Badham

Elenco: John Travolta, Karen Lynn Gorney, Barry Miller, Joseph Cali, Paul Pape, Donna Pescow, Bruce Ornstein, Martin Shakar, Julie Bovasso e Val Bisoglio.

 

    Sempre fui fã dos anos 70, e uma das portas para esta década foi aberta para mim através da música – e fora o Rock n’ Roll tendo sua mais inspirada época – a “Era Disco” também se tornou o símbolo desta geração que começou em guerra ao som do psicodelismo de Woodstock, terminado no visual colorido das discotecas.

    Após ouvir – ainda pré-adolescente– o vinil (Duplo) do Bee Gees com a trilha sonora do filme, fiquei encantado com o ritmo que me fez pesquisar e conhecer um pouco mais aquele clima de paletós com golas enormes, calças boca de sino, cabelos escovados e meias Lurex que tanto via nas fotos de família.

    Devidamente apresentado ao estilo, acabei chegando ao “Os Embalos de Sábado à noite” , onde já de início o diretor John Badham nos transporta para o subúrbio de Nova Iorque (Brooklyn) na sequência que se tornou clássica: Ao som de nada mais que “Staying Alive” embalando a cena, a câmera acompanha ­– literalmente– os passos de Tony Manero (Travolta), nas idas e vindas da rotina de trabalho em uma loja de tintas. Não tem como não imergir imediatamente nesta atmosfera com o comércio e pessoas que compunham o cenário real para o filme – cujos estabelecimentos tornaram-se pontos turísticos até hoje frquentados, como a Lenny's Pizzaria.

    Pode parecer óbvio, mas a importância de “Os Embalos de Sábado à noite” para aquela geração somente será entendida se nos inserimos no contexto da época. Mas independentemente, nos identificamos com o garoto pobre de origem italiana– tendo seus dramas familiares expostos nos conturbados jantares– onde o patriarca (Bisoglio) sofre com o desemprego e com sua “posição” ameaçada dentro da família. Tony ainda carrega o peso de seu irmão mais velho Frank Jr.(Shakar) ser Padre – e assim para uma família fervorosamente católica– ser visto quase como uma santidade, ocasionando também certa frustração e indiferença por parte da mãe (Bovasso) com Tony.

    E estas frustrações e dramas de Tony são usados como combustível nas noites dos sábados, onde ele deixa de ser o jovem da periferia e expurga todos seus demônios interiores para ser o rei da pista. A sequência ao som de “You should be Dancing” é icônica e John Travolta demonstra todo o resultado de meses de treinamento que o faz reverenciado até hoje. A direção de Badham não faz por menos e captura todos os movimentos, figurinos e cores daquela atmosfera, fazendo o espectador ser inserido de maneira sufocante naquele ambiente, principalmente quando Tony se apresenta com Stephanie ao som de outro sucesso dos Bee Gees: “More Than a Woman”.

    Lembro-me que antes de assisti-lo achava “Os Embalos de Sábado à noite” um filme restritamente musical, não exatamente como “Hair”, mas algo voltado mais para a música/dança em si. Mas depois fica claro que o roteiro de Norman Wexler baseado na reportagem de Nik Cohn trata esta questão mais como um grande pano de fundo, deixando o estilo e música falar por si só. As atenções são voltadas para o crescimento como pessoas daqueles jovens, enfrentando os dilemas da vida adulta, sexualidade, violência social e morte onde tudo é tratado sem grandes aprofundamentos e às vezes soando até um pouco inocente – mas não menos importante.

   Fora John Travolta, é válido notar a boa atuação Donna Pescow(em seu único longa metragem) com seu expressivo e belo olhar como a apaixonada Annete–que sofre com o amor não correspondido de Tony– nem mesmo quando a personagem lhe oferece sexo ainda na esperança de retomar o antigo relacionamento. Este momento é interessante por o filme ter a coragem de abordar gravidez não planejada e o uso de preservativos em uma época pré-Aids.

    Ratificando, o trabalho de Travolta é digno da fama alcançada e o personagem acaba absorvendo diretamente todos os sentimentos envolvendo o filme, atenuado com o relacionamento com Stephanie(Gorney) absolutamente verossímil e sem soar piegas .Sempre tratando as diferenças como o tempero necessário para avançar com a história e seu “desfecho”.

    Vale ressaltar no contraste do relacionamento o fato de Tony ser um rapaz sem perspectivas ou bom modos e intelectualmente inferior a Stephanie. Esta, uma mulher experiente que tem suas dúvidas artísticas e profissionais ligadas à cidade grande e suas sofisticações. Portanto um mundo desconhecido para Tony.

    O filme deixa claro em sua cena final que a estrada a ser seguida por Tony Manero–quem sabe auxiliado por Stephanie–é longa, incerta e com grandes obstáculos, mas que poderá ser vista no futuro como um caminho que terá valido a pena ter percorrido, ficando aqui nossa torcida e imaginação para o sucesso deles.

    Staying Alive...