Gremlins (1984)

Direção: Joe Dante

Elenco: Zach Gallingan, Kate Baringer, Polly Holliday, Hoyt Axton e Corey Feldman

Com sempre repito, um grande barato de rever um filme que ficou marcado em sua infância já adulto é poder notar todas suas referências e abordagens que são impossíveis de uma criança de 7 anos notar. E ao rever o clássico dos anos 80 “Gremlins” dirigido por Joe Dante e escrito por nada mais que Chris Columbus (“Esqueceram de Mim”e “Uma noite de aventuras”) é impossível não ficarmos indiferente ao contexto do longa e principalmente a direção de Joe Dante, que transforma um filme voltado para o público Infanto-juvenil em homenagens aos filmes B de terror dos anos 50, Hitchcock e até Noir, simbolizados nas pequenas criaturinhas cujo comportamento devido ao “politicamente correto” dos dias atuais seria impossível de acontecer nas telas.

Tal direção de Joe Dante responsável por outras pérolas como “Viagem ao mundo dos Sonhos”, “Viagem Insólita” e “Pequenos Guerreiros” demostra como era possível nos anos 80 fazer uma obra que pudesse agradar tantos aos pequenos quando aos adultos, sem ofender a inteligências de ambos – algo que hoje somente a Pixar consegue fazer com frequência. Assim temos de um lado um bichinho que arranca suspiros de delicadeza, com sua aparência amigável, grandes olhos e personalidade pueril, e do outro, criaturas insubordinadas, anárquicas, agressivas, olhos avermelhados com o único intuito de causar destruição e desordem, gerando o contraste do bem contra o mal, de fácil assimilação por todos.

Entretanto as diferenças não ficam somente na aparência. Ao se transformarem, após Billy (Zach Galligan) acidentalmente alimentá-los, eles não apenas mudam de aparência, mas também de personalidade. Assim é interessante notar que as famosas três regras - não molhá-los, não expô-los a luz forte e não alimentá-los depois da meia noite - tem uma ligação maior que jamais pensei mesmo sendo óbvia. Eles nascem pela água, crescem com os alimentos e morrem pela luz – simbólico não? Rs.

Os efeitos mecânicos usados nos Gremlins mesmo datados, não se tornam um problema devido ao bom trabalho feito, como podemos ratificar pela desenvoltura com que as criaturas se movimentam e interagem com os humanos que jamais soam artificiais. Entretanto neste contexto o grande charme da produção é justamente individualizar as criaturas e não os tornando algo uníssono e sem personalidade. Assim, os Gremlins assumem aquilo que hoje seria algo impensável em uma obra deste porte: além de psicopatas e maquiavélicos, eles fumam, bebem, jogam, se vestem de mulher e qualquer outra coisa do gênero - em que um mundo que condena abraços, seria algo facilmente visto como má influencia para as crianças.

E ao homenagear o gênero terror e suspense, o diretor Joe Dante abusa da gosma e clima de terror que remetem a clássico tipo “A bolha”, auxiliado pela edição de som que introduz uivos e ruídos típicos do gênero. Pode citar também, por exemplo, a sequência em que a mãe do protagonista é atacada pelos Gremlins em sua cozinha e a câmera abusa de ângulos e enquadramentos comuns ao gênero, - ratificado pelo fato dela carregar uma faca referenciando Psicose. Assim como todo terror que se preze, temos doses de humor negro, representado na cena em que a personagem Sra. Deagle é atacada pelos pequenos com direito a cadeira elétrica e desfecho para lá de hilário.

E as referências não param por aí; como não notar o tom crítico simbolizado no personagem vivido por Dick Miller que não admite que tecnologia estrangeira (De carros à TV) sendo usada nos EUA (Lembrado que os Gremlins são Chineses), numa época em que a economia americana dependia destes insumos. Tal contexto também se faz presente de maneira curiosa em uma cena de “De volta para o Futuro” em que Doc reclama que uma pequena peça esta com defeito por ser do Japão, ocasionando a engraçada cena que Martin Mcfly diz: “Tudo que é bom vem do Japão”- para espanto do Doutor.

No seu terceiro ato roteiro de Chris Columbus ainda nos presenteia com mais homenagens e referências; agora com o próprio cinema. É emblemática a cena que os personagens assistem ”Branca de Neve e os setes anões”, em um exercício de metalinguagem com direito a “efeito 3D” com o público. Uma dos grandes sucessos do gênero nos anos 80, o longa apresentou um personagem que ficou para sempre nos corações e mentes do público.

E como diria o narrador antes dos créditos finais: se algum dia seu aparelho der defeito, cuidados que podem ser os “Gremlins”.

Curiosidades :

- Steve Spielberg foi o produtor executivo, e Gremlins homenageia dois de seus filmes. Logo no início vemos uma propaganda cujas roupas do personagem e o letreiro remete a Indiana Jones. Assim como o fato o único cinema da cidadezinha onde ocorrem os eventos está passando um filme cujo título seria o título original para E.T.

- A famosa trilha sonora de remlins foi composta por nada mais que Jerry Goldsmith, responsável pela trilha de Star Trek.

- Devido as suas cenas, Gremlins Foi um dos precursores da faixa indicativa P13 (filme não tão infantis e não tão adultos).