Ricki and the Flash

Direção: Jonathan Demme

Elenco: Meryl Streep, Kevin Kline, Mamie Gummer, Rick Springfield, Sebastian Stan e Audra McDonald

Escrito pela popular e engajada roteirista Diablo Cody, este Ricki and the Flash mantêm a premissa de trabalhar assuntos comuns nas obras da roteirista, como preconceito, homossexualidade e criticas sociais em geral. Mas ao contrário de suas obras mais famosas (“Juno” e “Jovens Adultos”) aqui tais assuntos são tratados superficialmente e com resoluções pouco criativas, ficando um aquém do esperado, mesmo tendo na direção nada mais que Jonathan Demme (Silêncio dos Inocentes). Todavia, contado com um bom elenco encabeçado por Meryl Streep e uma boa trilha sonora, o longa se torna por vezes numa experiência simpática e inofensiva.

Ricki (Streep) é uma experiente cantora que vive de shows com sua banda de Rock em um pequeno bar que atrai poucos e desolados clientes, enquanto divide seu tempo como operadora de caixa de mercado. Interpretado de maneira sincera pela atriz que não se permite soar desconfortável por assumir sua veia roqueira, a personagem se mostra uma mulher dividida entre o que é, e o que poderia (Assim é admirável ver uma atriz incansável na beleza de sua experiência se propor a um papel cantando Lady Gaga sem qualquer problema). Suas vidas se misturam publicamente, com o palco de suas apresentações servindo de divã para seus conflitos pessoais com seu namorado Greg (Springfield). Entretanto seu comportamento explosivo e por vezes racista (que a marcou no passado) prejudicou tanto seus relacionamentos que ela jamais se sente segura para tentar se redimir com os próprios filhos.

Mesmo necessitando sempre da presença de Streep para levar o filme à frente, destaca-se também a atuação de Mamie Gummer como Julie, filha de Ricki e vítima de uma depressão pelo fim do casamento, mas que aos poucos vai se reconstruindo tanto interna como externamente - principalmente com ajuda de Ricki que agora tenta se aproximar como mãe diante dos filhos e não como um objeto estranho aquele mundo. Mas como dito, tudo isso é feito de maneira superficial por vezes temos a sensação de que este conto de fadas pudesse render melhores momentos, com se faltasse realmente um aprofundamento dos conflitos, mesmo com alguns personagens desinteressante como o marido milionário vivido por Kevin Kline.

Mas ainda sim, quando tais conflitos se apresentam a direção de Damme consegue criar por momentos certa inquietude como, por exemplo, no encontro de Ricki e a atual esposa de seu ex, a ótima Audra McDonald que se mostra perfeita e reflete tudo aquilo que Ricki nunca poderia ser: uma mãe dedicada e atuante no desenvolvimento dos filhos (no caso os filhos de Ricki), agravado por esta esposa ser negra, bonita e bem sucedida, surgindo a uma bela critica ao nacionalismo preconceituoso da protagonista. Entretanto tudo isso não chega perto do clima e tensão familiar visto no excelente “O Casamento de Raquel” (também dirigido por Demme).

Em seu terceiro ato Ricki and the Flash se entrega a uma opção mais musical (com referencia até mesmo Footloose) fazendo com que todos aqueles dramas anteriormente apresentados se diluem ainda mais de maneira pueril em suas resoluções previsíveis. Quanto à trilha sonora que tem grande responsabilidade, pode-se dizer que ela atende seu propósito de agradar ao publico e servir de pano de fundo para os personagens. Fora a citada anteriormente Lady Gaga , outros momentos se destacam durante as sequências com U2 ,Bruce Springsteen e Rolling Stones  (Comprovando assim o bom gosto e conhecimento de causa do diretor que sempre flertou com a música desde seu “Stop Making Sense” de 1984 e “The Perfect Kiss” clipe da banda New Order que fugiu ao padrão vídeo clipe com sua câmera sempre fechada nos músicos).

Com dito anteriormente, um filme sem grandes pretensões (pelo menos comprovadamente falando) que se mostra superficial em seus contextos, mas sem ofender o bom gosto e a inteligência do espectador com seu final alegre e conciliador. Que sejam felizes!

Cotação 3/5