Peter Pan

Direção: John Wright

Elenco: Hugh Jackman, Levi Miller, Garrett Hedlung, Adeel Akhtar, Amanda Seyfried , Kathy Burke e Rooney Mara.

Mesmo inicialmente se apresentando como mais uma história de origem - o que poderia enquadra-lo em um gênero repetitivo - esta nova versão para a saga do menino que não queria crescer toma contornos surpreendentes e ousados ao mudar conceitos pré-estabelecidos num esquema por vezes surrealista e lírico. Contundo, ainda sim, não deixa de soar uma grande aventura bem conduzida, com um visual caprichado, cheio de referencias e atendendo todas as idades.

Incialmente ambientalizado durante a 2° guerra, ficamos conhecendo o jovem Peter, abandonado ainda bebê na porta de um orfanato cuja Madre Superior Barnabas (Burke) com sua aparência feroz não tem apreço por aqueles jovens ali presentes em pleno conflito armistício. Entretanto o próprio orfanato é a primeira abordagem surrealista (ou fabulesca) que o diretor Joe Wright (Orgulho e Preconceito) faz ao transformar aquele local numa espécie de zona de recrutamento para a Terra do Nunca (detalhe intressante observado também, que as figuras masculinas adulta são os vilões, como constatado pelo fato que durante as cenas que se passam em Londres todas as personagens são mulheres, inclusive os pilotos).

A direção toma uma série de decisões ou liberdades que deixaria qualquer um apreensivo pelo resultado - assim como aconteceu com o Hook de Spielberg que se excedeu mas fugiu do óbvio. Portanto, se existe algo que não se pode acusar esta nova versão é falta de coragem: batalhas aéreas que a somente a licenças poéticas permitem, Smell Like Teen Spirit e Hey Ho Let’s GO (influência de Moulin Rouge?) cantadas à capela são algumas das surpresas interessantes que o filme traz sem que jamais tirem os espectador do filme.

Fica até difícil comentar sobre o longa sem estragar alguma surpresa, pois tais elementos passam exatamente pela existência deles em si e não exatamente no que fazem. Quando surge em tela o vilão Barba Negra (Jackman), ele se apresenta um personagem com aparência fúnebre, mas carismático (com algumas pitadas de Darth Vader) - entretanto jamais duvidamos de sua crueldade a ponto de realmente temê-lo (Interessante notar seu visual atípico por aparentar um aristocrata do Século XVI com toques orientais nos cabelos e não necessariamente um pirata maltrapilho como temos no imaginário).

O estranhamento pelo vilão de um filme de Peter Pan ser um personagem não inerente a aquele mundo já merece a atenção, e fica ainda mais acentuado quando ficamos conhecendo o aventureiro Gancho (interpretado por um carismático Garrett Hedlung) que transforma seu personagem numa espécie de Indiana Jones , tanto pelos gestos como principalmente pelo vestuário idêntico - e sim , acredite, funciona por mais estanho que possa aparentar. E ainda somos apresentados à nativa interpretada pela expressiva e sempre excelente Rooney Mara que se junta a Peter Pan e Gancho para lutarem contra Barba Negra.

Visualmente bem trabalhado a direção de artes transforma o longo em três conceitos definidos. Se no início temos a aridez das minas e suas cores saturadas quebradas pelos figurinos coloridos e circenses dos piratas , no segundo ato que se passa na cidade dos nativos o longa assume de vez sua multiplicidade de cores e raças (comentarei o terceiro no fim do texto). Encravada no meio da floresta, cercada por pássaros em forma de esqueletos com plumagem coloridas, a cidade é um caldeirão multirracial com seus habitantes fazendo referências a várias culturas (Interessante notar, por exemplo, de direção usar fumaça colorida quando os nativos são alvejados, se tornando uma criativa solução para não impactar o público mais infantil, assim como o uso de bonitas animações pra explicar passagens mais agressivas da história).

Assim no terceiro ato e visualmente mais repetitivo devido o climax se passar no mesmo local, o longa se entrega um pouco ao diálogo mais expositivo (“Sempre estarei com você”) e sentimentalismos, mas sem grandes consequências e completamente compreensível. Contudo e o mais interessante é que o longa acaba criando um problema para o futuro numa possível continuação: Mesmo diante aqueles personagens carismáticos e funcionais, sabemos quais são seus destinos. Entretanto, não podemos negar que, apesar disso, existem grandes possibilidades para outro grande resultado e um arco dramático que merecerá mais elogios.

 Cotação 4/5