007 Contra Spectre (Spectre)

Direção: Sam Mendes

Elenco: Daniel Craig, Christoph Waltz, Lea Seydoux, Ralph Fiennes, Ben Wishhaw e Monica Belluci

Ao assumir o papel do agente inglês, Daniel Craig iniciou uma nova etapa na longínqua franquia ao transformar seu 007 num espião mais realista e passível de erros incomuns ao personagem; decisão esta influenciada diretamente pela abordagem dos atuais filmes do gênero - mais precisamente a série Jason Bourne. Portanto vimos no agente britânico um espião mais cru, sem sutilezas, passional e com as idiossincrasias pertinentes ao personagem que somente aos poucos fomos sendo apresentados; tornado esta nova etapa praticamente em um reboot . Ao analisarmos o contexto, podemos observar as qualidades como sendo o grande plano interligado que começou com o excelente Cassino Royale, passando pelo correto Quantum of Solace e chegando à Operação Skyfall que além de ser um dos melhores longas de toda a série fechou o arco do protagonista de maneira louvável ao inserir de maneira ousada e na dosagem certa alguns elementos do passado do próprio protagonista, mas sem quebrar em nenhuma momento as essência do personagem.

Contudo, este 007 contra Spectre consegue apenas se tornar um bom filme de ação com todas as características e atrativos que todos esperamos de um filme de James Bond, mas constrange em certo ponto ao trabalhar o arco dramático que vem sendo carregado desde o primeiro longa desta nova etapa em 2006 com Cassino Royale - e que julgávamos ter terminado no filme anterior Skyfall. Com uma estrutura um pouco cansativa e sem muita inspiração, este novo longa esta mais próximo daquilo que justamente os anteriores tentaram não abordar e que para mim sempre foi o ponto frágil , mesmo que tradicional da série: vilões milionários e caricatos com suas engenhocas tecnológicas querendo dominar o mundo. Para tal podemos pegar como exemplo desta aproximação com o passado as claras e óbvias referências a um grande vilão (e seu famoso gato branco) dos filmes de 007 desde os tempos de Sean Connery que aqui surge de maneira deslocada com a abordagem realista dos últimos anos.

Iniciando com bela introdução que se passa na cidade do México, temos quase com plano sequência pelas ruas da capital em pleno dia dos mortos em que Bond vai atrás de um negociante cuja motivação tem ligação com o filme anterior. A sequência de abertura é esteticamente bem elaborada e a direção evidencia as cores, sons e cultura da cidade em geral com um grande desfile nas ruas da capital mexicana. Após a perseguição, Bond descobre que o tal indivíduo faz parte da organização que se suspeita ser a grande responsável pelos acontecimentos envolvendo os três longas anteriores. E quando entra em campo uma nova política que pretende unificar as agências de espionagem e acabar com o programa “00”, cabe a Bond provar a necessidade dos seus métodos e desmarcar toda a conspiração por trás da organização que possui tentáculos em todas as camadas da sociedade.

Entretanto, o roteiro escrito a seis mãos responde questões que sequer sabíamos que existiam de maneira novelesca, quase comprometendo todos os elementos criados até aqui e que fizeram o diferencial dos últimos filmes (não que tal decisão seja um defeito em si por ser algo corriqueiro, mas toda a construção deveria ser de maneira natural, seguindo por um caminho do desenvolvimento da história e não apenas uma decisão arbitrária para atender uma necessidade dramática). Assim neste ponto Spectre falha por quase descontruir (digo “quase” por gostar muito de Cassino Royale e Skyfall ) tudo o que os filmes anteriores conseguiram alcançar.

A partir daí em sua jornada para buscar o grande vilão, o filme entrega tudo aquilo que tem de mais tradicional: carros, martini, belas locações, ternos, relógios , assassinos com métodos de matar pouco comuns e é claro as Bond Girls. Outros elementos pertinentes ao agente não comprometem e rende bons momentos como a presença sempre cômica do agente “Q” interpretado por Ben Whishaw, que mostra segurança ao repetir o tradicional personagem e “M”, agora interpretado por Ralph Fiennes substituindo a altura Judi Dench como chefe da agência. A Bond Girl Madeline (Seydoux) se não está à altura (quem estará?) de Vésper interpretada por Eva Green em Cassino Royale pelo menos não compromete e mostra personalidade, mesmo que no fim todos sabemos o que vai acontecer – vide a outra Bond Girl interpreta pela Monica Bellucci que apenas surge em cena como troféu do agente.

Certo momento nos seus longos 150 minutos, é notável que mesmo as boas sequências, a direção de Sam Mendes mostra certo esgotamento por não usar tais elementos de maneira útil ao filme e não somente como “pausa para ação” de uma história pouco convincente. Como dito antes, isso pode enfraquecer tudo que foi construído até Skyfall onde tínhamos uma reinvenção do personagem que abriu uma nova era para o agente; entretanto é decepcionante que a direção tenha dado de certa maneira um giro de 180° graus em direção aquilo que parecia ter ficado no passado. Mas enfim, se analisarmos num contexto geral, este provável último filme com o Daniel Craig interpretando o agente britânico encerra de maneira prosaica uma fase que entrou para a história do personagem que como diz a tradicional frase pós-créditos irá retornar em breve.

Cotação 3/5